Camila de Ávila*
A frase acima é do
psicanalista, educador, teólogo e escritor mineiro Rubem Alves. A
leitura é um prazer que poucos, infelizmente, são adeptos. No ensaio
intitulado “O prazer da Leitura”,
Rubem diz que se aprendesse a ler como se aprende a gostar de música,
teríamos mais leitores no país. É verdade, a leitura tem que estar para o
indivíduo como a música, ou seja, algo que oferece prazer, paz e bem.
Existem
alguns livros que toda mulher deveria ler, são vários, mas aqui falarei
de cinco, que são meus preferidos e quero compartilhar com vocês,
queridas leitoras.
1. Olhai os Lírios do Campo de Érico Veríssimo
O
título dessa obra é uma citação do evangelho de Mateus, Cap. 6, em que
Jesus, no famoso Sermão da Montanha fala sobre as preocupações
exageradas. E é disso que o livro trata, da preocupação exagerada com as
coisas terrenas, com os prazeres do ter e não do ser. A primeira parte
da obra é toda em flashback da personagem principal indo atender a um
chamado médico. Em suas memórias o leitor vai revivendo tudo que este
passou para se formar em medicina, ao que teve que se submeter e
esquecer para se tornar o conceituado doutor que é na obra. Este livro
do gaúcho Veríssimo se tornou novela global em
1980 com o ator Cláudio Marzo no papel principal. Olhai os Lírios do
Campo é um livro belíssimo, denso e carregado de lirismo e doçura. A
leitura dessa obra faz refletir sobre a vida e os rumos que damos a ela.
2. Olga de Fernando Morais
A
biografia dessa grande mulher emociona a qualquer coração de ferro.
Lutadora, forte, decidida e corajosa, Fernando Morais apresenta a jovem
judia filiada ao partido comunista da antiga URSS na década de 1930, e
entregue por Getúlio Vargas à Alemanha Nazista, como uma pessoa firme e
inteligente. A história de Olga Benário Prestes é incrível. O autor da
obra mostra com riqueza de detalhes tudo o que essa mulher, morta no
campo de concentração de Bernburg em 1942, passou. Mesmo presa, tendo
sua filha de ainda bebê retirada de seus braços, Olga, com apenas 34
anos, fez com que as prisioneiras não se abatessem e vivessem com o
mínimo de dignidade que a situação permitia. Este livro se tornou filme,
dirigido por Jayme Monjardim e estrelado por Camila Morgado em 2004. É
um bom filme, mas a obra escrita por Fernando Morais é muito melhor.
3. Leite Derramado de Chico Buarque
Segundo
o escritor e compositor a ideia de escrever um livro sobre um idoso que
está demente num hospital surgiu quando ouviu a cantora Mônica Salmaso
interpretar a canção O Velho Francisco,
do vinil Francisco de 1987. A obra mostra o perfil de um senhor,
membro da tradicional família carioca carregado de preconceitos e ideias
ultrapassadas que fica no leito do hospital divagando sobre o seu
passado e sobre sua paixão por Matilde. A cronologia dos fatos narrados
pelo ancião fica preterida, já que o senhor não consegue mais fazer a
ligação dos acontecimentos com o tempo. As histórias de sua infância e
juventude se misturam com as de seus filhos e netos. É um livro
delicioso, cheio de nostalgia, risos, dor e alegrias.
4. A Manhã Seguinte Sempre Chega de Gabito Nunes
O
gaúcho Gabito Nunes terminou um relacionamento com Ana, mulher de sua
vida e passou por maus bocados. Para ficar melhor começou a escrever o
que sentia para desabafar sua dor, daí surgiu a coletânea de crônicas
retiradas do blog Caras como eu, criado por Gabito. O livro é uma
cronologia do relacionamento, desde o início apaixonado, passando pela
crise, o fim, até o indivíduo estar pronto para o recomeço com um novo
amor. São textos gostosos de ler com humor, lirismo, poesia, leveza e
música. Não há como ler A Manhã Seguinte Sempre Chega sem, em algum momento, pensar: Já passei por isso.
5. O Evangelho Segundo Jesus Cristo de José Saramago
Denso,
cruel, lindo e um tapa. Essas palavras definem o Evangelho de Saramago.
Ganhador do Nobel de Literatura em 1998, o português é incrível no
trato com as palavras e em fazer com que elas te façam refletir e
questionar conceitos pré-concebidos. O Evangelho Segundo Jesus Cristo é
muito mais do que a história de Jesus contada pelo próprio sujeito, é a
visão de um homem inteligente diante da fé e do que esta impõe para
algumas pessoas. Lendo este livro é possível entender o porquê Saramago é
ateu e, sinceramente, compreender sua posição diante da fé. A leitura
desta obra não faz com que o apreciador do texto questione a própria
crença, e este não é o objetivo do livro. Trata-se de uma nova visão da
vida de Jesus, mais humanizada, no tange um homem com desejos, defeitos e
qualidades, um homem de verdade. O Evangelho Segundo Jesus Cristo
custou a José Saramago sua saída de Portugal para viver nas Ilhas
Canárias, território espanhol, já que a obra foi proibida pelo governo
do então primeiro ministro Cavaco Silva.
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