Tiririca
vai passar seu primeiro ano de mandato sem subir à tribuna para
fazer um discurso
Ailton
de Freitas/Arquivo O Globo
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Mais de dez meses depois da posse, o deputado federal mais votado do
Brasil, Tiririca (PR-SP), convocou para esta quinta-feira a primeira
audiência pública na Câmara que será comandada por ele. Mesmo sendo um
dos integrantes mais assíduos da Comissão de Educação e Cultura da
Casa, ele ainda não presidiu nenhuma sessão do colegiado neste primeiro
ano de mandato.
A
estreia no comando de uma comissão acontecerá na audiência para debater
a questão dos alvarás de instalação de circos nas cidades brasileiras e
o alto custo dos impostos cobrados pelas prefeituras, o que, segundo
Tiririca, tem inviabilizado a prática circense no país. Mas, se por um
lado Tiririca vai fazer sua estreia no comando de uma audiência
pública, o mesmo não se pode dizer sobre a ida do deputado à tribuna. O
parlamentar deve terminar seu primeiro ano de mandato sem fazer um
discurso sequer no plenário para os colegas.
- Eu sou artista
circense. O que me motiva mais é saber que posso fazer alguma coisa não
só pelo pessoal de circo, mas também pela cultura popular. Eu já tenho
visto na grande mídia pessoas de cargos fantásticos e que nunca tinham
falado que eram de circo. Isso me surpreendeu. Então, isso é legal,
saber que posso ajudar, botando a boca no trombone e a galera se
manifestando - disse Tiririca.
Apesar de já estar acostumado com
os holofotes, agora ele vai falar como deputado e defensor de uma
causa, o que para muitos, inclusive no Congresso, é um fato novo.
Sempre muito calado - porém, atento -, Tiririca mais observou que falou
neste primeiro ano. Uma das coisas que mais lhe chamaram atenção nos
discursos dos parlamentares foi justamente "a falta de atenção"
dispensada a quem discursa. Bem diferente da plateia do circo, compara
ele.
- No circo é mais organizado. No circo, o pessoal presta
atenção, aplaude. Aqui é cada um por si, é uma loucura! Aqui, você fala
para você mesmo, você mesmo se aplaude. Ninguém está nem aí, uns ficam
vendo a internet, outros estão ao telefone, lendo jornal, ninguém
presta atenção - afirma o deputado, emendando que ainda está aprendendo:
-
Eu me ligo porque para mim é um aprendizado, estou aprendendo como
funciona a coisa e como a coisa é. Mas nem por isso vou ser igual a
alguns deles. Não são todos, são alguns deles.
Se pudesse chamar de abestado, de filho de uma égua, eu chamaria, mas não pode porque é quebra de decoro. Se não fosse, eu falava: "Ô abestado presta atenção aqui".
Sobre sua primeira vez
comandando uma sessão na Casa, ele diz estar muito tranquilo, afirma
que a ansiedade é normal e enfatiza que quem estará na comissão é o
comediante eleito pelo povo:
- Acontece o seguinte: não vou
deixar de ser eu. Os meus eleitores elegeram não o político Tiririca.
Eles elegeram o palhaço, o comediante, e, não vou mudar por isso. Não
vou fugir das regras da Casa, lógico. Não estou aqui para bagunçar. Mas
não vou deixar de ser eu, pelo que os outros acham ou vão deixar de
achar. Se falar errado, se falar certo, sou eu. Não vou fugir das
regras deles, você tem que chamar de vossa excelência e essas coisas
todas, mas não vou também deixar de ser eu. Se pudesse chamar de
abestado, de filho de uma égua, eu chamaria, mas não pode porque é
quebra de decoro. Se não fosse, eu falava: "Ô abestado, presta atenção
aqui".
Contudo, ele não se diz intimidado.
- No circo, as
pessoas vão para assistir, e aqui é um outro público. Aqui eles vêm
para ver o cara se lascar mesmo. A realidade é essa. Eles vêm ver o que
é que esse doidinho vai falar, o que é que ele vai dizer. Então,
ansioso a gente fica. Não tem como não ficar.
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