Marcos Antonio Drumond Pesquisador da Embrapa Semiárido |
A Chapada
do Araripe, inserida no semiárido brasileiro, se estende por mais de
76 mil km2, ocorrendo em 103 municípios, dos quais 25 se encontram
no Ceará, 18 em Pernambuco e 60 no Piauí.
Em
aproximadamente 18 mil km2, que corresponde a 20% do território
pernambucano, está concentrada a maior reserva de gipsita em
exploração do Brasil. É a maior área de produção da América
Latina e a segunda do mundo, abastecendo o mercado nacional com cerca
de 95% do gesso consumido.
A
indústria do gesso é responsável por 93% de todo o consumo de
energéticos florestais na área do polo gesseiro. Estima-se que
aproximadamente 65% da área da Chapada do Araripe foram desmatados
até 2009.
A demanda
atual de energéticos de base florestal para o polo gesseiro do
Araripe ultrapassa dois milhões de mst.ano-1 (incluindo os consumos
industrial, comercial e domiciliar).
Ressalta-se
ainda que as atividades do polo gesseiro concorrem de maneira
determinante para o agravamento dos problemas ambientais da região,
por consumir, quase exclusivamente, a vegetação nativa em seus
fornos de desidratação do minério – a gipsita. Isso representa,
numa superfície de corte sob manejo florestal, entre 9.500 ha.ano-1
(ciclo de rotação com 13 anos) e 11.885 ha.ano-1 (ciclo de rotação
de 15 anos), considerando-se estoques médios de lenha entre 160 e
200 mst.ha-1, respectivamente.
O rápido
crescimento da planta de eucalipto é uma característica que o
aponta como capaz de tornar a espécie uma alternativa de cultivo
para suprir a demanda por madeira das mais de 100 calcinadoras da
Chapada do Araripe.
Com base
em plantios comprobatórios de florestas de rápido crescimento, o
eucalipto, apesar de ser uma espécie exótica, tem apresentado bom
crescimento na Chapada do Araripe. Nessa região, plantios realizados
com quatro anos de idade, os híbridos de eucalipto se mostraram
viáveis para produzir madeira em nível comercial, apresentando uma
produtividade em torno de 100 m3.ha-1 de lenha.
Destacando-se
que essa produtividade para a região é superior às estimativas que
são feitas para projetos de implantação de “florestas
energéticas”, com a finalidade de produzir madeira para uso em
fornos industriais.
Nos
projetos de implantação de “florestas energéticas”, o
planejamento envolve o plantio de espécies de rápido crescimento
com expectativa de corte a partir do sexto ano, com previsão de um
incremento médio anual (IMA) entre 30 m3/ha.ano-1 e 43 m3/ha ano-1.
Os resultados obtidos nos plantios comprobatórios no município de
Araripina-PE, numa situação de chuvas irregulares e concentradas no
primeiro trimestre do ano, são muito promissores.
Partindo
dessa premissa, o desempenho observado coloca o eucalipto como uma
alternativa de plantio na região do Araripe para ocupar as áreas de
caatinga já devastadas de forma intensa.
Esses
povoamentos têm como principal função minimizar, ou mesmo
reverter, o desmatamento na região, que se situa em torno de 7.600
ha.ano-1. Esse número evidencia categoricamente a insustentabilidade
econômica e ambiental da exploração gesseira se a vegetação
nativa for mantida como principal fonte energética.
Nesse
contexto, a lenta recuperação da caatinga devastada – são
necessários pelo menos de 13 a 15 anos para que a vegetação nativa
cortada volte a recompor o estoque original –, é ainda mais
preocupante.
Isso
implica dizer que, com o desmatamento de 21 ha para obtenção de
5.250 mst.dia-1 de madeira da floresta nativa, a área da caatinga só
voltará a alcançar volume de produção semelhante após ser
deixada sem uso algum ao longo de 15 anos.
Conforme
os resultados de produção madeireira registrados no modelo de
floresta energética em estudo pela Embrapa Semiárido, Instituto
Agronômico de Pernambuco - IPA, e outras instituições parceiras,
apenas 8,1 ha.dia-1 de exploração de povoamentos plantados já
seriam bastante para atender à demanda de consumo de lenha na
Chapada do Araripe.
Dessa
forma, a exploração da caatinga passaria a ser 2,6 vezes menor, com
a vantagem da uniformidade da lenha produzida, promovendo um melhor
rendimento energético dos fornos das calcinadoras. Isso reduziria
significativamente a pressão do homem sobre a vegetação nativa,
uma vez que, em média, 13 ha de mata nativa deixariam de ser
cortados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário