'Vocês já destilaram todo o seu ódio', diz Lupi

Carlos Lupi diz que agora só vai se comunicar com a imprensa por meio de nota
André Coelho/Arquivo O Globo
Horas depois de entregar à presidente Dilma Rousseff sua carta de demissão, o ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi chegou cedo à sede da pasta, em Brasília. Ele limpou suas gavetas e saiu do prédio por volta de 10h30m, já sem se valer do privilégio de usar o elevador privativo. Ao GLOBO, Lupi se limitou a dizer:

- Com vocês (da imprensa) agora eu só falo por meio de nota oficial. Vocês já destilaram todo o seu ódio. Agora só por nota – encerrou Lupi, seguindo em direção à garagem do Ministério do Trabalho.
Lupi estava acompanhado apenas do assessor especial Márcio Monjardim. No carro oficial, ele seguiu para a sede Nacional do PDT onde se reuniu com o secretário-geral do partido, Manoel Dias, e o senador Acir Gurgacz (PDT-RO). Manoel Dias disse que ainda é cedo para falar sobre o futuro do PDT no governo Dilma e que a permanência no partido no Ministério do Trabalho depende de encontro com a presidente, que ainda não foi marcado. Dias admitiu que a situação de Lupi era insustentável. O secretário-executivo do Ministério do Trabalho, Paulo Roberto Pinto, foi confirmado como ministro interino da pasta.

- Ele livrou-se desta tortura. Neste momento, não há o que se falar se o PDT sairá do Ministério do Trabalho. Não discutimos isso ainda, essa é uma conversa que teremos com a presidente Dilma.

Presidência do PDT

O presidente interino do PDT, André Figueiredo (CE), afirmou que o ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi vai ser reconduzido à presidência do partido em Janeiro. Por recomendação da Comissão de Ética da Presidência da República, Lupi teve de deixar a presidência do PDT porque ele não podia acumular a pasta do Trabalho e o cargo de dirigente partidário simultaneamente. Segundo Figueiredo, ele pediu um mês de folga para descansar com a família.

- Ele disse que vai ficar o mês de dezembro com a família e, em janeiro, assumirá a presidência do PDT.

Na reunião de Lupi com alguns membros da executiva nacional nesta manhã, o ex-ministro não teria tratado de seu retorno à presidência do partido. O secretário-geral do PDT afirmou que Lupi foi vítima de injustiça porque “nada do que se diz contra ele foi provado”. Dias também salientou que, ainda nesta tarde, o partido vai pedir um relato sobre a conversa definitiva entre Lupi e a presidente Dilma, na noite de domingo no Palácio da Alvorada. O dirigente reconheceu que um dos motivos que o levaram a pedir demissão foi o desgaste pessoal e familiar.

- A família sofre mais do que todo mundo – disse o secretário-geral.

Também nesta segunda-feira, como resultado do pedido de demissão de Lupi, a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara cancelou a audiência pública que faria terça-feira com Lupi. Ele prestaria esclarecimentos sobre as diferentes versões que apresentou sobre uma viagem ao Maranhão após ser desmentido por vídeos e fotografias.

Oposição cobra que investigações continuem

Apesar da demissão, a oposição cobrou a continuidade das investigações das denúncias contra o ex-ministro. O líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), também afirmou que espera uma "faxina de verdade" em todos os ministérios na reforma ministerial programada para janeiro de 2012.

- É importante que as investigações sobre as irregularidades sejam feitas e a extensão do prejuízo causado aos cofres públicos seja medida, para que haja o ressarcimento - afirmou o tucano.
O líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), tem a mesma opinião:

- Não basta só demitir ministro. Queremos o aprofundamento das investigações e o desmonte completo do aparelho de corrupção montado no ministério do Trabalho. Por outro lado, a Advocacia Geral da União tem que entrar em campo para recuperar o dinheiro roubado em diversos convênios da pasta com ONGs dirigidas por filiados ao PDT - disse o líder do PPS.

Ele criticou a presidente Dilma Rousseff, dizendo que ela não tem nenhum controle sobre o governo e que o primeiro ano de governo está sendo marcado pela corrupção e paralisia decisória. Ele também compartilhou a avaliação do colega tucano de que a reforma ministerial pode ser oportunidade para presidente.

- A demissão de Lupi é a prova de que Dilma não tem nenhum controle sobre o governo e passou o primeiro ano administrando o espólio de corrupção herdado do ex-presidente Lula. Com a postura de segurar por no governo ministros envolvidos em escândalos, a autoridade dela, a cada dia que passa, deixa de existir - disse Rubens Bueno, acrescentando:

- Nós não vemos Dilma governar com uma esquipe adequada à realidade dessa nova etapa da vida do país. Ela só vem atendendo as demandas de loteamento de cargos, da velha prática política, quando imaginávamos que com Dilma o governo seria diferente do que foi com Lula.

Outro problema, segundo Rubens Bueno, é a prática da "porteira fechada", ou seja, a entrega de todos os cargos do ministério ao mesmo partido.

No PDT, o deputado Miro Teixeira (RJ), um dos maiores críticos de Lupi durante a crise que envolveu o ministério, afirmou que o partido pretende manter o controle da pasta. Já o líder do PT, deputado Paulo Teixeira (SP), reconheceu que a saída de Lupi foi inevitável, mas disse não conhecer os rumores de disputa entre PT, PDT e PMDB para comandar o Ministério do Trabalho.

- Desconheço os estudos para mudança na organização dos ministérios, mas uma coisa é importante afirmar: é fundamental que o PDT continue ocupando o ministério e dando a sua contribuição para o governo e apoiando o governo Dilma Rousseff. O PDT foi nosso parceiro nas eleições e é fundamental que continue assim - afirmou o petista.

Alvejado por denúncias de corrupção no Ministério do Trabalho, envolvendo de irregularidades em ONGs ligadas ao PDT, Lupi não resistiu à pressão e entregou sua carta de demissão no domingo. Em nota oficial, o ex-ministro negou todas as denúncias e disse ser vítima de perseguição da mídia e da Comissão de Ética da Presidência, que recomendou sua demissão.

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