No bicentenário, Venezuela continua luta por independência


A Venezuela comemora, nesta terça (5), os 200 anos de sua independência como um processo ainda em curso. Depois de libertar-se da colonização espanhola – com a assinatura da declaração oficial em 5 de julho de 1811 –, o país, sob a liderança de Hugo Chávez, luta agora pelo seu desenvolvimento soberano e autônomo, que tem sido chamado pelo presidente de "a segunda e definitiva independência".

Durante esta segunda, tanques e helicópteros treinavam para as celebrações, que começariam, ainda durante a noite (4), com uma cerimônia chamada de "Amanhecer da Liberdade", que incluiria fogos de artifício, toques dos sinos da catedral de Caracas e da igreja de São Francisco. 

Já nesta terça-feira a bandeira nacional foi içada, como pontapé inicial dos festejos, e foram feitas homenagens ao libertador Simón Bolívar. Pela manhã, ainda ocorreria um grande desfile cívico-militar, com a participação das Forças Armadas Bolivarianas, integrantes dos programas venezuelanos de assistência social, organizações populares, conselhos comunais e da milícia bolivariana. Seriam exibidas as armas de combate fabricadas na Rússia e adquiridas pela Venezuela como tanques T-72, obuses, artilharia antiaérea e meios de transporte.

Dentro da programação, o parlamento venezuelano abriu o cofre no qual se encontra o original da Ata de Declaração da Independência, que ficará exposto ao público, assim como vários documentos históricos. Os festejos continuam com a reinauguração da praça Diego Ibarra e a apresentação da Orquestra Sinfônica da Venezuela sob a direção do maestro Gustavo Dudamel. Os eventos vêm sendo preparados há vários meses e se estenderão até o dia 30.

A imagem gráfica e audiovisual que identifica todas as atividades programadas para comemorar o bicentenário exalta a figura de Bolívar como artífice do processo independentista, com uma espada na mão e em posição de luta sobre a forma do continente sul-americano.

Os festejos pelo bicentenário começaram há dois anos, quando a Tocha Bicentenária percorreu o país entre abril de 2009 e abril de 2010, nas mãos de estudantes, trabalhadores, diretores, portadores de deficiência, pessoas da terceira idade, esportistas e artistas, entre outros.

O fogo simbólico finalizou sua trajetória no dia 19 de abril do ano passado, data que é o marco inicial da luta pela libertação. Naquele momento, foi o próprio Chávez que declarou que seu país vive um novo ciclo que vai "coroar a grande revolução" comandada por Bolívar. "Gritemos ao mundo que estamos aqui, os filhos e filhas daqueles heróis e heroínas, 200 anos depois, e em plena revolução por sua independência definitiva".

Agora, pouco mais de um ano depois, o presidente que sempre pautou sua atuação pelas ideias de integração e autonomia defendidas por Bolívar, pode não participar das festas desta terça.

Recuperando-se de uma cirurgia realizada em Cuba para a retirada de um tumor cancerígeno, Chávez voltou nesta segunda à Venezuela, mas precisará de repouso. "Mas estou aqui e estarei aqui com vocês de meu posto de comando no coração de Caracas, de onde nunca saí", afirmou.

Nesta terça, o presidente celebrou em sua conta no Twitter. "Oh, Venezuela, Feliz Aniversário Pátria Querida! Ah, Venezuelanos, Venezuelanas, Felicidades hoje e sempre, Irmãos meus! Viva a Venezuela!!!!", escreveu o presidente.

Mas as comemorações pelo bicentenário não são apenas festivas. Desde 2010, várias tarefas foram realizadas, nos planos político, econômico e social, de maneira a render tributo à história. A execução de programas como Grande Missão Agrovenezuela e Grande Missão Habitação, criados para conquistar o desenvolvimento alimentar e suprir o déficit habitacional do país, estão inseridos no cronograma pela inclusão e a soberania.

Segundo o ministro da Agricultura, mais de 92 mil produtores foram beneficiados com o programa de agricultura. Em relação às moradias, o plano é construir 153 mil casas este ano. "Nossa revolução bolivariana se empenha para criar as condições sociais para reverter a barbárie do capitalismo", afirmou Rafael Ramírez, ministro de Energia e Petróleo.

Vários outros projetos que visam melhorias sociais também marcaram os preparativos do Bicentenário. Em Caracas, está sendo realizada uma série de obras de revitalização de edifícios que devem ser inaugurados paulatinamente. O governo também promove a recuperação de espaços abandonados, assim como a reparação de museus, teatros e calçadas.

A primeira independência

Em 1809 ocorreu a primeira insurreição independentista encabeçada pelo general Francisco de Miranda. E, em 19 de abril do ano seguinte, em meio à comoção originada pelo avanço de Napoleão Bonaparte sobre a Espanha, um movimento popular em Caracas formou uma junta de governo que não reconheceu a autoridade do capitão-geral Vicente Emparán.

Não se tratava ainda da independência derradeira, mas já se percebia ali um processo de transformação social e resistência à opressão colonial que viria a se desenvolver até a libertação. A junta de governo decidiu estabelecer juntas provinciais, liberar o comércio exterior e proibir o tráfico de escravos. Apenas três províncias mantiveram-se leais ao governo espanhol: Maracaibo, Coro e Guayana.

A independência só viria a ser proclamada a 5 de julho de 1811, mas Miranda é preso e serão necessários outros dez anos de luta contra as forças espanholas até a decisiva Batalha de Carabobo (1821). A Venezuela integrou então a República da Grande Colômbia, junto com a Colômbia, Equador e Panamá. Pouco antes da morte de Simón Bolívar, o grande herói da independência, em 1830, a Venezuela retirou-se da Grande Colômbia.

A independência definitiva

"Para nós, a independência é um processo que começou em 1808 e que está totalmente vivo. E temos a obrigação de concluí-lo e encerrá-lo", disse o historiador Aristides Medina, membro da Comissão Presidencial para a Comemoração do Bicentenário.

Nesse sentido, os 200 anos da independência têm duplo significado, pois representam também um marco da retomada de uma ofensiva pela independência e unidade não só na Venezuela, mas na América Latina. O ideal anti-imperialista que rompeu a dependência da dominação espanhola tem se renovado no continente nos últimos anos, em um processo que teve inicío com a ascensão de Chávez e que levou vários países da região à esquerda.

Mais que a independência política, governos progressistas como o da Venezuela passaram a buscar também a independência econômica, social e cultural, sempre tendo como ponto de partida a unidade latino-americana e caribenha.

Desta forma, a concepção bolivariana tem se revitalizado ao calor das lutas atuais, a partir da criação de espaços regionais, como o Mercosul, a Alba, a Unasul e a Celac, que, em última instância, buscam exatamente esta "independência definitiva".


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