Partido
se aproxima do PT e já negocia ministério. PSD saiu das urnas como
a quarta força do país em prefeituras - 497 prefeitos e mais de
4.500 vereadores
Fernando Haddad se encontrou com o atual prefeito, Gilberto Kassab, no Palácio do Anhangabaú (Marcos Bezerra/Futura Press) |
“Nem de
esquerda, direita ou centro.” Foi assim que o prefeito de São
Paulo, Gilberto Kassab, anunciou no ano passado a linha ideológica
que balizaria os passos do Partido Social Democrático, sigla montada
por ele em 2011. Kassab sonhava em estruturar um partido formado por
políticos de diferentes legendas, majoritariamente do DEM, sua
antiga sigla. Um ano depois, as eleições municipais consagraram seu
projeto: o PSD saiu das urnas como a quarta força do país em número
de prefeituras - 497 prefeitos e mais de 4.500 vereadores. Também um
ano depois, Kassab agora começa a colocar em prática a segunda fase
do seu projeto: instalar o PSD na máquina federal.
Conhecido
no meio político pela habilidade para negociar acordos, Kassab
começou a se aproximar do PT antes mesmo das eleições municipais.
Porém, o anúncio à época de que José Serra (PSDB), de quem
herdou a prefeitura da maior cidade do país, seria candidato impediu
o arranjo. Além da fidelidade ao prefeito ao tucano, o acordo também
esbarrou numa eventual falta de discurso comum ao PT, que passaria
toda a campanha atacando a gestão Kassab. Dito e feito. A má
avaliação da administração municipal pesou contra a candidatura
de Serra e o petista Fernando Haddad foi eleito no último dia 28 de
outubro.
Dado o
histórico político-partidário de Kassab e seus aliados, o caminho
natural do PSD, que encampou a chapa de Serra, seria integrar a
oposição à futura gestão Haddad na cidade. Kassab, porém,
apressou-se em colocar o PSD no barco petista.
O PSD
em números em 2012
Nos
municípios
- 497 Prefeitos eleitos
- 4.652 Vereadores eleitos
Nos
estados
- 2 Governadores (SC e AM)
- 107 Deputados estaduais
Em
Brasília
- 2 Senadores
- 47 Deputados Federais
A
aproximação com o PT já havia sido ensaiada em disputas regionais
que uniram petistas e o novo partido, como em Belo Horizonte, onde
Kassab chegou a intervir no diretório local da sigla para forçar o
apoio dos filiados locais ao candidato Patrus Ananias (PT), que havia
sido escolhido por Dilma. Fim das eleições, as negociações entre
o PSD e PT já começaram, e incluem a possível entrega da chefia de
um ministério.
“Os
resultados foram um teste que fortaleceram o partido. Agora, não
vamos forçar nada. Não queremos que ela [Dilma] tire outro ministro
para colocar alguém do PSD. Não queremos nos indispor com ninguém.
Nosso projeto é para 2014, quando devemos estar com a presidente
Dilma. O espaço do PSD será conquistado num segundo mandato da
presidente”, disse o secretário-geral do PSD, Saulo
Queiroz.
Segundo o
secretário, nem mesmo a eventual concessão imediata de um
ministério é fundamental para a aproximação. “Mas é lógico
que não vamos recusar se a presidente disser ‘faço questão que
vocês tenham um ministério’”, diz Queiroz.
Mais
discreto, o deputado federal paulista Guilherme Campos, líder do PSD
na Câmara, afirma que a aproximação com o governo federal ainda
está na fase de “negociações” e que, por enquanto, tudo vai
continuar igual no PSD. “Vamos nos concentrar no fortalecimento do
partido”, disse Campos. Kassab apoio só deve mesmo ser
oficializado no próximo ano.
Tamanho -
Mais do que as prefeituras, o que valoriza o passe do PSD para o
governo de Dilma Rousseff ou para outros partidos que venham a
disputar a Presidência em 2014 é a sua bancada na Câmara. O
partido conta com 47 deputados federais (tem mais oito licenciados),
o que faz dele o quarto maior partido da Casa, só atrás do PT, PMDB
e PSDB. Apesar da força, a bancada é toda formada por deputados que
abandonaram outros partidos, que não passaram pelo crivo dos
eleitores quando se instalaram no PSD.
Mas as
eleições municipais mostraram que o PSD é bom de voto - pelo menos
nos municípios - mesmo sendo um partido sem ideologia definida e que
segue uma trajetória previsível. Para se firmar neste pleito, a
sigla usou a antiga máquina dos diretórios estaduais de partidos
canibalizados para a formação da nova legenda. Nos estados em que
mais elegeu prefeitos, o PSD simplesmente repetiu o projeto de poder
de conhecidos caciques regionais que já foram filiados ao DEM,
PMDB, PSDB e até ao PMN. Tudo sem o aparecimento de novas
lideranças.
O
crescimento também seguiu a velha tradição brasileira em que
detentores do governo ou da vice-governadoria conseguem eleger um
grande de número de candidatos a prefeito com um empurrão da
máquina pública. Onde estava no poder, o PSD ganhou mais.
Foi assim
nos estados de Santa Catarina e do Amazonas, onde o PSD detém os
governos estaduais, e em Tocantins, em Mato Grosso e na Bahia, em que
o partido de Kassab conta com vice-governadores. "É uma coisa
normal, os cargos permitem uma maior visibilidade", diz o
deputado licenciado Paulo Bornhausen (PSD-SC). Com isso, o partido
conseguiu o melhor desempenho candidato/eleito entre todos os
partidos. Cerca de 45% dos seus candidatos a prefeito se elegeram.
Em comparação, só 35% dos petistas concorreram a prefeituras
venceram.
Em Santa
Catarina, o PSD vem seguindo simplesmente a trajetória do velho DEM
local com um nome diferente. O partido conseguiu ocupar quase todo o
espaço do seu antecessor, que era bastante tradicional no estado.
Elegeu 54 prefeitos e conquistou a prefeitura de Florianópolis –
que se tornou a primeira capital administrada pelo novo partido. Já
nos estados em que não contava com a força de caciques com mandato,
a sigla foi mal. Foi o que aconteceu em Roraima, no Acre e no Amapá.
O
governador de Santa Catarina é Raimundo Colombo, também um egresso
do DEM. O projeto do partido no estado continua sendo essencialmente
o mesmo arquitetado pelo DEM em 2010, e inclui uma grande coalizão
com o PMDB para administrar o estado. Já no Amazonas, o
fortalecimento do PSD deve ter como consequência o afastamento do
governador Omar Aziz do seu antecessor Eduardo Braga (PMDB), de quem
foi vice.
Imagem
- Ainda que se aproxime do governo federal, o PSD tenta se afastar da
imagem de agremiação oportunista, alimentada, sobretudo, pela
célebre frase de Kassab sobre a linha ideológica da sigla. Mas as
lideranças continuam sendo vagas sobre a linha da legenda. "Somos
um partido novo, ainda em formação. Aquela frase do Kassab foi mal
interpretada. Nós somos um partido independente", diz o
deputado Bornhausen, que é filho do ex-cacique do DEM Jorge
Bornhausen. Já o deputado Campos afirma que essa falta de
consistência deve ser corrigida "conforme o partido for
amadurecendo".
Já
senador e presidente do DEM, José Agripino Maia, tem, obviamente,
uma opinião bem menos favorável. "O PSD é uma sopa de
letrinhas sem sentido algum. Não vai durar. Ele só existe para
aderir ao governo. Mais nada. É só ver o que fizeram em São Paulo,
mal esperaram para aderir ao Haddad", disse.
Apesar da
imagem "independente" e pretensamente agregadora de
políticos que estavam insatisfeitos em outras siglas e que, enfim,
teriam seu espaço, o PSD não se viu livre de conflitos internos
nestas eleições. O episódio mais grave envolveu a senadora Katia
Abreu (PSD-TO), presidente da Confederação da Agricultura e
Pecuária do Brasil (CNA), que se irritou com a mão pesada com que
Kassab agiu no caso do PSD mineiro, forçando uma aliança com o PT.
“Foi uma coisa pontual, que já passou”, diz o deputado Campos.
Influência
– E o cacife de Kassab e do PSD com o governo de Dilma pode
aumentar ainda mais. O PSD está em negociações com o PP, do
ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf (PP), com o objetivo de fazer
uma fusão entre os dois partidos. Se o projeto evoluir, o PSD e PP
formariam na Câmara uma bancada do tamanho da do PT – hoje a maior
da Câmara – com 86 deputados. Seria maior que a do PMDB, que tem
78 deputados.
Mas não
é certo que o projeto avance. Caciques do PSD afirmam que as
conversas existem, mas que um eventual avanço deve provocar muitos
atritos. “É algo que faria mais sentido se o PSD tivesse saído
enfraquecido das eleições”, disse o secretário Queiroz. Alguns
pepistas também já reclamaram publicamente do projeto, afirmando
que o PP teria pouca a ganhar se unindo a Kassab, que naturalmente
iria liderar a sigla mais inchada.
Conversas
anteriores com outros partidos já ocorreram antes, especialmente
quando PSD corria o risco de não participar da divisão do bolo do
fundo partidário. Um movimento aconteceu com o PSB até junho, mas
acabou não produzindo resultados.
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