O desmantelamento dos serviços de assistência técnica no país por
décadas, e sua dificuldade de se reorganizar, é um entrave para que a
tecnologia desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa) chegu aos produtores, principalmente os pequenos. A avaliação
é do presidente da estatal, Pedro Arraes.
“A gente depende das redes de extensão rural. A gente tem feito
capacitação, o problema é que as empresas públicas de extensão rural,
com algumas exceções, estão ainda numa situação muito crônica. Elas
foram muito desarticuladas ao longo dos anos e, para reconstruir, é
complicado”, disse à Agência Brasil. Para Arraes, isso levou à perda de recursos humanos e à má remuneração dos profissionais.
O presidente da Embrapa ressaltou que, para as tecnologias da empresa
poderem ser aplicadas na agricultura familiar, é preciso que outros
programas estejam em prática. “Não somos a primeira mola propulsora de
tudo isso. Tem uma série de outras políticas públicas que tem que vir
antes da gente para essas pessoas [pequenos produtores] estarem aptas a
receber essas tecnologias”.
Quanto aos produtores mais pobres, Arraes defende que a assistência
técnica seja oferecida permanentemente nos programas do governo. “O
problema é que tem um contrato de dois ou três anos e depois desse tempo
aquilo ali se desmancha e não cria o compromisso do agrônomo com as
pessoas”. Para ele, os produtores precisam se organizar mais em suas
regiões e seguir iniciativas bem-sucedidas para receber assistência
técnica de qualidade. O governo também deve incentivar o cooperativismo e
associativismo, que “ são fundamentais para os pequenos agricultores”.
O presidente da Embrapa citou com exemplo positivo um modelo seguido
por produtores de Goiás. “Eles pagam um técnico agrícola para cada15
produtores. Para cada grupo de técnicos, também tem um agrônomo
responsável a quem a Embrapa pode passar os conhecimentos para serem
multiplicados. Eles produziam de 3 a 5 litros de leite quando começaram
e, hoje, alguns deles estão produzindo 300 litros”, disse.
Segundo Arraes, é preciso um debate sobre as necessidades dos
produtores. No cenário atual, grande parte dos profissionais que prestam
assistência técnica no país é contratada por empresas de fertilizantes,
defensivos e sementes. “Nada contra, mas eles defendem o interesse
dessas grandes companhias e, nem sempre, o interesse delas é o interesse
dos produtores. Você tem o Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar [Pronaf] que tem que fazer projetos, mas muitas
vezes o agrônomo não vai às propriedades”.
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