Lista de desmandos do
ministro cresce a cada dia, mas estratégia do Planalto é escancarar
apoio - e garantir a ele um depoimento tranquilo no Congresso
O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra: mantido no cargo (Antonio Cruz/ABr) |
A crise em que está mergulhado o ministro Fernando Bezerra Coelho, da Integração Nacional, se agrava com o passar dos dias. Desde a semana passada, quando veio à tona que Bezerra destinou 90% das verbas federais antienchente
a Pernambuco, seu estado natal, a lista de desmandos do ministro não
para de crescer – e já inclui até nepotismo. Ainda assim, a presidente
Dilma Rousseff decidiu blindá-lo. O Planalto avalia que, em ano eleitoral, não é indicado comprar briga com um aliado do porte do PSB,
partido de Bezerra. A estratégia governista, elaborada ainda na semana
passada, ficou clara na segunda-feira: a presidente ordenou que o
ministro fosse o responsável pelo anúncio da criação da Força Nacional de Apoio Técnico de Emergência, grupo interministerial que irá atuar em locais afetados por desastres naturais.
No mesmo dia, o ministro disse estar "tranquilo" no cargo. "Se não
contasse com a confiança e apoio da presidente, não estaria nessa
solenidade", afirmou Bezerra, que prossegiu: "Estamos tranquilos,
nenhuma dessas denúncias irá prosperar, nunca prosperou uma denúncia em
relação a minha pessoa, nunca tive nenhuma conta rejeitada. O Tribunal
de Contas aprovou todas as contas."
Segundo reportagem desta terça-feira do jornal O Estado de S. Paulo,
Dilma avaliou que as denúncias contra Bezerra são inconsistentes e
orientou o ministro a prestar esclarecimentos públicos. A estratégia
conta ainda com um ponto a favor do governo: na quinta-feira, quando
falará ao Congresso, Bezerra deve encontrar um clima amigável, uma vez
que a comissão representativa que atua “de plantão” durante o recesso
parlamentar é de maioria governista. Como Dilma já orientou os aliados a
saírem em defesa do ministro enrolado, Bezerra não deve encontrar
problemas no Congresso.
A blindagem federal, porém, não consegue barrar o surgimento de novas denúncias contra Bezerra. Nesta terça-feira, o jornal O Estado de S. Paulo
informa que, em outubro do ano passado, o ministro nomeou o tio, o
ex-deputado federal Osvaldo Coelho (DEM), membro do comitê
técnico-consultivo para o desenvolvimento da agricultura irrigada,
criado dias antes pela pasta. Agora, já são dois os parentes do titular
da Integração empregados no governo: Bezerra também nomeou o irmão,
Clementino, presidente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São
Francisco e Parnaíba (Codevasf).
A situação de Bezerra começou a se complicar na semana passada, quando
se descobriu o uso político de verbas de prevenção a enchentes. Embora
não esteja na lista de regiões com maior risco de inundações, o estado
de Pernambuco, berço eleitoral do ministro, recebeu 90% da verba
antienchente da pasta. No final de semana, revelou-se que ele utilizou verba pública para projetar o filho,
deputado Fernando Coelho Filho (PSB), em Petrolina, cidade onde o
parlamentar deseja eleger-se prefeito neste ano. Nesta segunda-feira, o
jornal Folha de S. Paulo informou que o ministro comprou por duas vezes o mesmo terreno quando era prefeito de Petrolina – utilizando-se, é claro, de verba pública.
Mas Bezerra conta com um padrinho forte: o governador de Pernambuco,
Eduardo Paes. Em meio à crise, Campos, que acumula o cargo de presidente
do PSB, comandou a ação de blindagem. O método: dividir com Dilma a
responsabilidade – e o desgaste político – pela distribuição dos
recursos. Depois de passar por desentendimentos com aliados em 2011, com
a queda de ministros do PMDB, do PR, do PDT e do PCdoB, Dilma não quer
comprar briga com o PSB. Precisa do apoio do partido para as votações no
Congresso Nacional e não pode perder de vista as alianças para as
eleições deste ano.
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