Candidatos
não agradariam muitos dos jovens que
protestaram
contra o regime de Mubarak
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Na
primeira eleição após a queda do ex-presidente Hosni Mubarak, em
fevereiro deste ano, os principais candidatos e partidos políticos
continuam os mesmos de antes e oferecem poucas alternativas ao
eleitorado, principalmente o mais jovem, na opinião de colunistas e
analistas do Egito.
Em seus editoriais, os jornais Al Masry al Youm e Al Ahram
disseram que enquanto as eleições oferecem mais de 10 mil candidatos e
40 partidos aos eleitores, a imensa maioria é desconhecida da
população.
Egito
"Os
conhecidos são os mesmos de outras eleições, os líderes dos principais
partidos como o secular Wafd e o islâmico Justiça e Liberdade, ligado à
Irmandade Muçulmana. Novo em pleitos, o recém-criado partido Nour, dos
salafistas, aparece como alternativa para o eleitorado mais conservador
e identificado com uma doutrina islamista mais conservadora", publicou
o Al Ahram.
Segundo o Masry al Youm,
partidos seculares como o Wafd, do líder Ayman Noor, no passado um
crítico opositor a Mubarak, concorre com poucas "caras" novas e não
agrada aos jovens liberais que foram às ruas em protestos que
derrubaram Hosni Mubarak.
"Eles querem
candidatos com uma visão mais moderna de governança. Mas estes são
escassos e os que existem, são pouco conhecidos em meio aos mais de 10
mil na disputa", completou o jornal.
Candidatos
disputam quase 498 cadeiras para a Assembleia do Povo (Câmara dos
Deputados). As eleições parlamentares se estendem até a terça-feira,
dia 29.
A votação também vai determinar
qual bloco político controlará o Parlamento, que elegerá um comitê de
cem membros com a função de elaborar uma nova Constituição.
O
Conselho Supremo das Forças Armadas, a Junta Militar que governa o país
desde a saída de Mubarak, apontará o novo governo com base no resultado
das urnas.
Camponeses e trabalhadores
Muitos
eleitores dizem não acreditar
no
processo eleitoral
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A lei eleitoral do Egito determina que 50% dos assentos no
Parlamento sejam preenchidos com canddiatos que venham de zonas rurais
e também aqueles ligados à classe trabalhadora.
Segundo
o cientista político Walid Kazziha, da Universidade Americana do Cairo,
a lei é muito vaga e aumenta a dificuldade de eleitores em ter opções
mais claras no pleito e também cresce a possibilidade de manipulação do
eleitorado pelas elites governantes
"A questão é simples – quem determina quem é candidato da classe rural ou trabalhadora?", pergunta ele.
Kazziha
explica que nos tempos de Mubarak, sindicatos de trabalhadores e
camponeses, controlados pelo governo, eram os únicos autorizados a
indicar candidatos a eleições.
"Essa lei não mudou, e deixa o eleitorado ainda mais sem opções confiáveis", salientou.
Mensagem clara
O jovem estudante universitário Hazem al Bustany estava na fila para
votação nesta segunda-feira para deixar sua mensagem clara aos
militares que governam o país.
"Vou anular
meu voto e escrever uma mensagem no papel de votação para expressar meu
desagrado com a Junta Militar e os partidos políticos", disse ele à BBC
Brasil.
Para o egípcio, a juventude que
foi às ruas para exigir reformas e derrubar Hosni Mubarak está
desiludida com a mesma elite dominante que concorre nas urnas.
"Até
a Irmandade Muçulmana e os outros partidos, que estiveram conosco na
revolução, nos abandonaram nos protestos da semana passada. Perdemos
nossa fé neles", enfatizou al Bustany.
A
advogada Amira Alani disse que não anularia seu voto. "Vou votar no
menos pior, as opções não me agradam, mas não votar é dar a vitória
para os candidatos que eram do velho regime. Ao menos faremos mudanças
no Parlamento", disse ela.
O ativista
político Basem Fathy, diretor da Academia de Democracia Egípcia no
Cairo, explicou que, após a revolução do início do ano, os jovens
ativistas e estudantes pró-democracia que inciaram a revolução não
criaram um partido político que representasse suas visões –, mais
seculares, liberais e modernas para o Egito.
"Ao
invés disso, os mesmos partidos de sempre se apresentaram como
respostas para suas reivindicações. Mas suas propostas não
corresponderam aos anseios dessa massa jovem, carente de mudanças mais
ousadas".
Islâmicos
Segundo
projeções da mídia do país, os partidos islamistas são apontados como
favoritos no pleito desta segunda, e há a expectativa que tenham a
maioria no Parlamento.
O Partido Justiça e
Liberdade, ligado à Irmandade Muçulmana, e o Partido Nour, criado pelos
salafistas, despontam como principais grupos políticos para angariar
votos da classe mais pobre e parte da classe média.
De
acordo com colunistas políticos do Egito, os dois movimentos são
ampalmente rejeitados pelo elelitorado secular, jovem e que foi às ruas
em janeiro e fevereiro deste ano.
"Para
eles, os discursos dos dois grupos não atendem as suas expectativas por
modernidade. Os salafistas, por exemplo, só apresentam discursos com
citações religiosas e acreditam que o Islã é a resposta para todos os
problemas sociais, econômicos e políticos", explicou o analista Basem
Fathy.
"Com esse panorama, os jovens
egípcios, ao menos aqueles mais liberais, se sentem desiludidos com o
Egito pós-Mubarak", completou.
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