Assentamentos recebem casas pelo Programa Nacional de Habitação Rural

Moradores do assentamento Gama e Armazém, no município pernambucano de São Bento do Una, localizado no Polo Sindical do Agreste Meridional, receberam nesta quinta-feira (26), 41 novas residências.
As casas têm o valor de R$ 28,5 mil e são as primeiras de um total de 69 unidades previstas para a área, beneficiando famílias de assentados.

As moradias foram construídas pela cooperativa Bemorar com recursos do Programa Nacional de Habitação Rural (PNHR) - Minha Casa, Minha Vida, por meio de um financiamento da Caixa em parceria com o Incra, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Bento do Una e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Pernambuco (Fetape).

Essas são as primeiras residências do assentamento a serem construídas na modalidade do PNHR na região do Agreste Meridional.

Na cerimônia de inauguração estavam presentes Luiz Aroldo, Superintendente do Incra em Pernambuco, Givaneide Santos, diretora agrária da Fetape, Alexandre Batité, vice-prefeito da cidade, Givaldo Ferreira, presidente da cooperativa Bemorar, e representantes da cooperativa Coates, que realiza assistência técnica.

Fonte: Incra

NOTA OFICIAL: Parlamentares do PCdoB são contra gasto excessivo dos recursos públicos

Bancada não irá utilizar cota adicional disponibilizada pela Mesa Diretora da Câmara para passagens aéreas de cônjuges.


Aliel Machado manda recado ao STF: #DevolveGilmar

Em entrevista à jornalista da Liderança do PCdoB na Câmara, Christiane Peres, nesta quarta-feira (25), o deputado federal Aliel Machado (PCdoB/PR) falou sobre a morosidade do pedido de vistas do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, que 'engavetou' a Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) 4.650, proposta pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), contra o financiamento empresarial de campanhas eleitorais.

Por Christiane Peres e Joanne Mota, da Rádio Vermelho
Para o parlamentar comunista, essa situação "deixa muita dúvida sobre que papel parte do Judiciário assume perante a sociedade brasileira. E o exemplo é a atitude do ministro Gilmar Mendes, legítima do ponto de vista administrativo, mas imoral, no meu ponto de vista, pelo momento que o país passa".

Aliel ainda acentuou que não há, no memento, outro assunto tão importante como o debate em torno da reforma política. Segundo ele, não outra outra via se não a implementação da reforma política para iniciarmos um movimento concreto no combate à corrupção.

"Toda a sociedade deve cobrar esse processo, não cabe somente ao Legislativo, este é somente uma das representatividades no âmbito legal. Só com unidade e luta alcançaremos mudanças", o parlamentar comunista.

Ouça mais na Rádio Vermelho:
Coalizão pela reforma política: Gilmar Mendes tenta justificar o injustificável
"É hora de ação política, de ação social", afirma Walter Sorrentino

ARTICULAÇÃO: Bancada comunista quer manter regras do seguro-desemprego

A Bancada do PCdoB na Câmara dos Deputados se reuniu com ministros do governo Dilma, na manhã de quinta-feira (26), para tratar das Medidas Provisórias 664 e 665, que mudam as regras na concessão da pensão por morte e do seguro-desemprego, respectivamente. As MPs fazem parte das ações anunciadas pelo Executivo no final de 2014 para gerar uma economia nos cofres públicos de R$ 18 bilhões em 2015.

O encontro ocorreu no Palácio do Planalto e teve a participação dos ministros Miguel Rossetto (Secretaria Geral), Pepe Vargas (Relações Institucionais), Nelson Barbosa (Planejamento), Carlos Gabas (Previdência) e Manoel Dias (Trabalho). A ideia é articular apoio das bancadas na Câmara para as propostas apresentadas pelo Executivo.

O PCdoB é a primeira legenda na Câmara a ser recebida pela equipe ministerial no debate sobre o pacote fiscal anunciado pelo Ministério da Fazenda. A Bancada tem se posicionado publicamente contrária aos ajustes nos direitos sociais do trabalhador, principalmente no que se refere ao seguro-desemprego. A posição não foi diferente na reunião.

A deputada líder do PCdoB, Jandira Feghali (RJ), reconheceu o esforço do governo em aproximar o diálogo do Parlamento, mas criticou a proposta de aumentar o acesso ao seguro-desemprego de 6 para 18 meses.

A massa trabalhadora, principalmente a jovem, não pode ser atingida pelo ajuste fiscal com tamanha violência. É preciso sinalizar o ajuste também para os mais ricos”, disse Jandira, adiantando a proposta de tributação de grandes fortunas.

Para ela, “há caminhos para que se possa tributar com justiça quem tem mais patrimônio no país”, como o PLP 10/2015. “O modelo tributário progressivo é urgente. Hoje, o cidadão tem um fusca e paga IPVA de 4%, mas quem compra um helicóptero ou uma lancha nada paga”, enfatiza.

Os deputados Aliel Machado (PR) e Davidson Magalhães (MG) reforçaram a posição da liderança na mesa. Para Aliel, a juventude será a maior atingida. “Ampliar a carência é permitir que essa faixa etária fique de fora do auxílio.”

O vice-líder do governo na Câmara, deputado Orlando Silva (SP), mostrou a necessidade de esclarecer à população as medidas a serem tomadas. “Não se pode permitir que o discurso seja o da oposição ou de parte da mídia, que distorce a decisão tomada pelo governo nos ajustes econômicos”, afirma.

A Bancada sinalizou a necessidade de flexibilizar algumas regras e considerou apoiar às modificações na pensão por morte e na expansão ao Sistema Único de Saúde (SUS) da perícia médica em acidente de trabalho. Uma nova reunião ainda deve ser feita na próxima semana para continuidade do debate. Também estiveram presentes os deputados Alice Portugal (BA), Carlos Eduardo Cadoca (PE), Chico Lopes (CE), Daniel Almeida (BA), Jô Moraes (MG), Luciana Santos (PE), Rubens Pereira Jr; Wadson Ribeiro (BA).

*Com informações da assessoria da parlamentar

Pauta do Plenário inclui novo prazo para Lei das ONGs e limite de peso para mochilas escolares

A Medida Provisória (MP) 658/2014, que adiou a entrada em vigor da Lei das ONGs (Lei 13.019/2014), será o primeiro item da pauta da sessão deliberativa marcada para a próxima terça-feira (24). A MP precisa ser votada para liberar o restante da pauta.

A medida altera a lei considerada marco civil no relacionamento das organizações não governamentais (ONGs) com o Estado. Estabelece normas gerais para licitações e contratação das entidades sem fins lucrativos, com alcance sobre União, estados, Distrito Federal e municípios. A lei ainda reforça o monitoramento e a avaliação das parcerias, que se dará paralelamente à fiscalização pelos órgãos de controle.

Com as mudanças feitas pela MP, a lei entra em vigor em julho. Relatório da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), aprovado em comissão mista, estabelecia prazo ainda mais alongado: novembro como regra geral e janeiro de 2016 para municípios com até 20 mil habitantes. A Câmara, no entanto, rejeitou o texto de Gleisi.

Licença e campanha

A pauta contém ainda uma série de projetos de lei da Câmara, como o PLC 114/2013, que inclui as campanhas educativas entre as ações passíveis de recebimento de recursos da União destinados a estados e municípios que elaborarem planos de gestão de resíduos sólidos (Lei 12.305/2010). A matéria foi aprovada na Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) no final do ano passado.

Outro projeto que consta da pauta é o PLC 22/2013, que regulamenta o direito à licença-maternidade no âmbito das Forças Armadas. De acordo com o texto, a militar tem direito à licença-maternidade de 120 dias prorrogáveis por mais 60. A prorrogação já é prevista para as servidoras civis federais. A licença começará a contar do parto ou do nono mês de gestação, se for de interesse da gestante. Se o bebê for prematuro, o prazo contará a partir do parto.
Mochilas e carros

A pauta também inclui o PLC 66/2012, que fixa em 15% do peso corporal do estudante o limite para o peso das mochilas com material escolar, e o PLC 49/2014, que obriga as lojas de carro a informar ao comprador a situação de regularidade dos veículos e os tributos incidentes na transação.

Os senadores ainda poderão votar o PLC 35/2013, que institui a Fundação Universidade Federal do ABC (UFABC), e o Projeto de Lei do Senado (PLS) 201/2013, que dá novo limite para o ICMS das pequenas empresas.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

COMUNICAÇÃO: Sinal digital e gratuito da TV Câmara chegará a 50 estações neste ano

Coordenada pela Câmara dos Deputados, a Rede Legislativa de Rádio e TV fechou o ano de 2014 com 33 operações em capitais e cidades do interior do País. Para 2015, a previsão é chegar a 50 estações no ar. O modelo bem sucedido de compartilhamento de custos e responsabilidades se dá graças à multiprogramação, um recurso da TV digital que permite a divisão de um único canal em quatro. Assim, cada Casa Legislativa (Câmara dos Deputados, Senado, Assembleia Legislativa e Câmara Municipal) tem uma emissora 24 horas no ar com programação independente.

Nas capitais, a Rede Legislativa já está no ar em Brasília (DF), Belo Horizonte (MG), Fortaleza (CE), Porto Alegre (RS), Cuiabá (MT), Palmas (TO), Vitória (ES), Goiânia (GO), Florianópolis (SC), Salvador (BA), Natal (RN), Manaus (AM), São Luís (MA), Macapá (AP) e João Pessoa (PB). As quatro últimas são de responsabilidade do Senado, conforme um acordo de cooperação entre as duas Casas Legislativas. Recife (PE) e Rio Branco (AC) estarão em funcionamento no primeiro semestre deste ano.

A Rede Legislativa também trabalha para levar o sinal aberto e digital da TV Câmara para o interior do Brasil. Estão no ar as estações de Assis, Barretos, Bauru, Campinas, Jacareí, Jaú, Marília, Piracicaba, Ribeirão Preto, Tupã, em São Paulo; e Sete Lagoas, Uberaba e Uberlândia, em Minas Gerais. Outras 20 câmaras municipais estão trabalhando para entrar em operação em 2015. Nos próximos anos, a cobertura da TV Câmara deve se multiplicar. Mais de 300 câmaras municipais já solicitaram adesão à Rede Legislativa e aguardam a liberação de novos canais pelo Ministério das Comunicações.

Rádio
 
A Rede Legislativa de Rádio também está em franco crescimento. 2014 marcou o início da primeira operação de rádio FM, numa parceria com a Assembleia Legislativa do Mato Grosso. Como o sinal de rádio é analógico, a frequência 89.5 é compartilhada entre Câmara dos Deputados e Assembleia Legislativa.

Os próximos passos serão a instalação do sinal da Rádio Câmara, em parceria com as casas legislativas locais, nas cidades de Rio Branco (AC), Salvador (BA), Jaboatão dos Guararapes (PE), Belém (PA), Campo Grande (MS), João Pessoa (PB), Macapá (AP), São Luís (MA), Teresina (PI), Bauru (SP), Mogi Das Cruzes (SP), Ourinhos (SP), Penápolis (SP), Santos (SP), Divinópolis (MG), Montes Claros (MG), Uberlândia (MG), Santarém (PA), Jataí (GO), Ponta Grossa (PR) e Quatro Barras (PR).

Além disso, a Câmara dos Deputados solicitou ao Ministério das Comunicações canais de rádio para mais de 50 municípios onde há disponibilidade no plano básico da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

Coalizão cobra projeto que proíbe financiamento privado em campanhas

A Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas vai realizar na próxima quarta-feira (25), na Câmara dos Deputados, um ato público em apoio à votação da proposta de iniciativa popular de reforma política. Entre outros pontos, o projeto impõe teto de gastos para as campanhas, bem com limita a fonte de financiamento apenas a recursos públicos previstos em lei.
O projeto idealizado pela coalizão conta com a assinatura de mais de 120 parlamentares. O grupo reúne mais de 100 entidades e movimentos sociais, entre elas, CNBB, OAB, Contag, CUT, Fenaj, UNE e MST.

A reforma política é bandeira histórica do PCdoB e foi reforçada por uma proposta que veio da sociedade (PL 6316/13), numa coalizão que reuniu mais de 100 entidades, mas precisará do apoio das ruas para avançar no Parlamento.

Segundo a líder do PCdoB na Câmara, deputada Jandira Feghali (RJ), "o fim do financiamento privado de campanhas é o ponto central do projeto para acabar com a corrupção eleitoral. “Precisaremos do reforço das ruas, das mobilizações, para avançarmos de fato, pois teremos uma resistência ainda maior este ano, correndo o risco de serem aprovadas propostas que vão de encontro aos interesses da população”.

A coalizão é contra o texto da Proposta de Emenda à Constituição que embasa as discussões sobre a reforma política na Comissão Especial que analisa o tema na Câmara. A principal crítica das entidades em relação à PEC é a inclusão no texto constitucional da participação de empresas no financiamento de campanhas eleitorais.

Para o deputado Henrique Fontana (PT-RS), membro titular da comissão especial, a mobilização popular é fundamental para impedir a institucionalização do financiamento eleitoral privado no país. “Essa é uma mobilização de setores da sociedade que defendem uma verdadeira mudança na estrutura política do país, com a proibição da participação de empresas no financiamento das eleições, em oposição àqueles que desejam deixar tudo como está, ou seja, que o poder econômico continue influenciando na escolha e no resultado das eleições”, explicou.

Segundo Fontana, em todos os países onde o voto facultativo foi adotado a população se afastou do processo de escolha de seus representantes. “E isso ocorreu principalmente entre os mais pobres, enquanto cresceu a influência das grandes corporações no processo eleitoral. Fazer isso no Brasil é elitizar a participação política”, atestou.

Tramitação

O projeto apoiado pelas entidades da sociedade civil organizada está apensado ao PL 1538/07, em tramitação há mais tempo na Câmara. Essa proposta está pronta para ser votada no plenário da Câmara, dependendo apenas de decisão do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

A comissão especial que vai analisar a proposta de reforma política foi instalada na última terça-feira (10), na Câmara dos Deputados. Os deputados Daniel Almeida (BA) e Orlando Silva (SP) são os representantes do PCdoB na comissão especial. O colegiado será presidido pelo deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) e relatado pelo deputado Marcelo Castro (PMDB-PI).

No Senado, está marcada para a primeira semana de março a votação de um pacote de propostas sobre reforma política. Pelo menos dez projetos estão prontos para entrar na Ordem do Dia e algumas das votações ocorrerão simultaneamente com a Câmara dos Deputados.

Do Portal Vermelho, com agências

Em manifesto, intelectuais denunciam golpe

Documento assinado por nomes de peso da intelectualidade brasileira, como Fabio Konder Comparato, Marilena Chauí, Cândido Mendes, Celso Amorim, João Pedro Stédile, Leonardo Boff, Luiz Pinguelli Rosa e Maria da Conceição Tavares, entre vários outros, denuncia a tentativa de destruição da Petrobras e de seus fornecedores; "Com efeito, há uma campanha para esvaziar a Petrobras, a única das grandes empresas de petróleo a ter reservas e produção continuamente aumentadas", diz o texto; "Debilitada a Petrobras, âncora do nosso desenvolvimento científico, tecnológico e industrial, serão dizimadas empresas aqui instaladas, responsáveis por mais de 500.000 empregos qualificados, remetendo-nos uma vez mais a uma condição subalterna e colonial"; documento propõe pacto pela democracia

Um manifesto em defesa da democracia e da Petrobras foi divulgado nesta sexta-feira por alguns dos principais intelectuais brasileiros. O texto denuncia a tentativa de destruição da Petrobras, de seus fornecedores e de tentativa de mudança do modelo que rege a exploração de petróleo no Brasil. Leia, abaixo, texto do jornalista Luis Nassif e, também, o manifesto dos intelectuais:

Por Luís Nassif, do jornal GGN

É hora de encarar os fatos: há uma conspiração em marcha para desestabilizar o governo,
ainda que à custa da desorganização da economia. Não dá mais para tapar o sol com a peneira. É uma conjunção muito grande de fatores:
A cobertura enviesada da mídia em cima de vazamentos seletivos da Operação Lava Jato. Conseguiram transformar até a Swissleaks em operação Lava Jato.

O comportamento do Procurador Geral da República Rodrigo Janot, tratando o crime de vazamento de informações como se fosse uma ocorrência normal.

As declarações sincronizadas da mídia, Joaquim Barbosa e Sérgio Moro, procurando manietar o já inerte Ministro da Justiça.

A visita de procuradores ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos, a pretexto de colaborar com as investigações contra a Petrobras.

Finalmente, a decisão do Ministério Público Federal, de agora há pouco, de dar o golpe final contra as empreiteiras da Lava Jato, inviabilizando-as definitivamente.

Não tem lógica alegar estrito cumprimento da lei para liquidar com as empresas. Nem o mais empedernido burocrata ficaria insensível aos efeitos dessa quebra sobre a economia brasileira, sobre empregos e sobre o crescimento.

Qualquer agente público minimamente responsável trataria de apurar responsabilidades e punir duramente as pessoas físicas responsáveis, evitando afetar as empresas, ainda mais sabendo dos desdobramentos sobre a economia como um todo.

Só intenções políticas obscuras para justificar essa marcha da insensatez.

PS - Alo, presidente Dilma Rousseff. Esqueça essa preocupação sobre se as pessoas vão ou não duvidar da sua honestidade. Ninguém duvida dela. Eles não estão atrás da sua reputação: estão atrás do seu cargo. Acorde!

Abaixo, manifesto de personalidades contra o jogo político em andamento.

Manifesto: O QUE ESTÁ EM JOGO AGORA 

A chamada Operação Lava Jato, a partir da apuração de malfeitos na Petrobras, desencadeou um processo político que coloca em risco conquistas da nossa soberania e a própria democracia.

Com efeito, há uma campanha para esvaziar a Petrobras, a única das grandes empresas de petróleo a ter reservas e produção continuamente aumentadas. Além disso, vem a proposta de entregar o pré-sal às empresas estrangeiras, restabelecendo o regime de concessão, alterado pelo atual regime de partilha, que dá à Petrobras o monopólio do conhecimento da exploração e produção de petróleo em águas ultraprofundas. Essa situação tem lhe valido a conquista dos principais prêmios em congressos internacionais.

Está à vista de todos a voracidade com que interesses geopolíticos dominantes buscam o controle do petróleo no mundo, inclusive através de intervenções militares. Entre nós, esses interesses parecem encontrar eco em uma certa mídia a eles subserviente e em parlamentares com eles alinhados.

Debilitada a Petrobras, âncora do nosso desenvolvimento científico, tecnológico e industrial, serão dizimadas empresas aqui instaladas, responsáveis por mais de 500.000 empregos qualificados, remetendo-nos uma vez mais a uma condição subalterna e colonial.

Por outro lado, esses mesmos setores estimulam o desgaste do Governo legitimamente eleito, com vista a abreviar o seu mandato. Para tanto, não hesitam em atropelar o Estado de Direito democrático, ao usarem, com estardalhaço, informações parciais e preliminares do Judiciário, da Polícia Federal, do Ministério Público e da própria mídia, na busca de uma comoção nacional que lhes permita alcançar seus objetivos, antinacionais e antidemocráticos.

O Brasil viveu, em 1964, uma experiência da mesma natureza. Custou-nos um longo período de trevas e de arbítrio. Trata-se agora de evitar sua repetição. Conclamamos as forças vivas da Nação a cerrarem fileiras, em uma ampla aliança nacional, acima de interesses partidários ou ideológicos, em torno da democracia e da Petrobras, o nosso principal símbolo de soberania.

20 de fevereiro de 2015

Alberto Passos Guimarães Filho
Aldo Arantes
Ana Maria Costa
Ana Tereza Pereira
Cândido Mendes
Carlos Medeiros
Carlos Moura
Claudius Ceccon
Celso Amorim
Celso Pinto de Melo
D. Demetrio Valentini
Emir Sader
Ennio Candotti
Fabio Konder Comparato
Franklin Martins
Jether Ramalho
José Noronha
Ivone Gebara
João Pedro Stédile
José Jofilly
José Luiz Fiori
José Paulo Sepúlveda Pertence
Ladislau Dowbor
Leonardo Boff
Ligia Bahia
Lucia Ribeiro
Luiz Alberto Gomez de Souza
Luiz Pinguelli Rosa
Magali do Nascimento Cunha
Marcelo Timotheo da Costa
Marco Antonio Raupp
Maria Clara Bingemer
Maria da Conceição Tavares
Maria Helena Arrochelas
Maria José Sousa dos Santos
Marilena Chauí
Marilene Correa
Otavio Alves Velho
Paulo José
Reinaldo Guimarães
Ricardo Bielschowsky
Roberto Amaral
Samuel Pinheiro Guimarães
Sergio Mascarenhas
Sergio Rezende
Silvio Tendler
Sonia Fleury
Waldir Pires

Samuel Pinheiro Guimarães: Financiamento privado e corrupção

Há um clamor público, uma revolta de todas as classes da sociedade, contra as revelações de corrupção. Quando terá começado a corrupção? Quem são os culpados? É um fenômeno exclusivamente brasileiro ou do mundo subdesenvolvido ou humano em geral? A quem interessa? Ocorre apenas no setor público? Será uma característica inata da sociedade brasileira?

Por Samuel Pinheiro Guimarães*, na Carta Maior
 
Os incidentes de corrupção que a operação Lava Jato vêm desvendando e que vazam para a imprensa, sem provas e a conta gotas, por quem deveria preservar o sigilo das investigações e a reputação dos acusados (mas não culpados por que não foram julgados) estariam relacionados com o financiamento de campanhas eleitorais.

O sistema de financiamento de campanhas eleitorais está vinculado à representação de interesses econômicos no Legislativo e no Executivo. O caso do Judiciário é um tema a parte, ainda que de grande interesse.

O candidato Aécio Neves gastou em sua campanha eleitoral, de acordo com as declarações ao TSE, cerca de 201 milhões de reais. A candidata Dilma Rousseff gastou cerca de 318 milhões de reais. O custo total das campanhas para presidente, governador, senador e deputado foi de cinco bilhões de reais.

De onde vieram esses recursos? Certamente (ou muito raramente) não vieram da fortuna pessoal dos candidatos, mas sim de doações, principal ou quase exclusivamente, de grandes empresas privadas.

O custo das campanhas é em extremo elevado devido aos custos de produção e de veiculação de programas de televisão, das viagens que se fazem necessárias devido à extensão territorial do país, dos custos de material de propaganda e de sua distribuição.

O objetivo dos que defendem o financiamento privado das campanhas eleitorais está vinculado à principal característica da sociedade brasileira que é a concentração de renda e de riqueza.

A concentração de renda é, em geral, estimada a partir dos rendimentos do trabalho conforme declarados à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo IBGE.

Os rendimentos do capital, isto é os lucros, os juros, os aluguéis, são subdeclarados na PNAD e a Secretaria da Receita Federal não publica esses dados de acordo com a sua distribuição por faixa da população, ainda que sem quebra de privacidade dos declarantes do Imposto de Renda.

A estimativa é de que os rendimentos do trabalho correspondam a cerca de 48% da renda nacional.

O salário mínimo é de 788 reais, o salário médio do trabalhador brasileiro é inferior a 2.300 reais por mês e 90% dos brasileiros ganham até cinco salários mínimos por mês.

São 13,7 milhões de famílias que recebem o Bolsa Família. Isto significa que cerca de 50 milhões de brasileiros tem rendimento mensal inferior a 77 reais. Por outro lado, há, no Brasil, cerca de 46 bilionários e 10.300 multimilionários, estes com patrimônios pessoais superiores a 23 milhões de reais.

Muitos são os mecanismos de concentração de renda e de riqueza.

Entre esses mecanismos estão às taxas de juros, o sistema tributário, os créditos do Estado a empresas e o sistema de aluguéis.

Quanto mais elevadas às taxas de juros “autorizadas” ou permitidas pelas autoridades monetárias maior a transferência de riqueza de devedores, que são a enorme maioria da população, para os credores privados, detentores do capital, e do Estado para os seus credores.

O sistema tributário pode ser regressivo ou progressivo. O sistema se diz regressivo quando a maior parte dos impostos arrecadados provêm da maioria da população, sem distinção de seu nível de renda (imposto sobre o consumo, por exemplo) e se diz progressivo quando os indivíduos detentores de maior riqueza ou de mais alto nível de renda pagam mais impostos mesmo em proporção a sua riqueza ou renda. É fato que um sistema regressivo de tributação concentra renda e riqueza. As isenções de impostos, as restituições e as desonerações para empresas ou indivíduos acentuam a concentração de renda.

Os créditos fornecidos pelo Estado privilegiam em geral as maiores empresas e, portanto, seus proprietários que são os indivíduos mais ricos da sociedade.

A leniência do Estado para com a evasão de tributos ou com seu não pagamento (por exemplo, pela não criminalização da evasão, pelo parcelamento e perdão das dívidas tributárias) também concentra renda e riqueza. São brasileiros os proprietários de 530 bilhões de dólares depositados em paraísos fiscais.

A concentração de renda e de riqueza em mãos de uma ínfima minoria da população brasileira tem importantes efeitos sobre o sistema democrático e sobre os episódios de corrupção.

Os indivíduos detentores de riqueza e renda tem interesse em preservar os mecanismos de concentração e interesse em que não surjam instrumentos legais (leis ou programas) que desconcentrem riqueza e renda.

Ora, as normas (as leis) que definem a estrutura e o mecanismo de riqueza, propriedade e renda (legislação trabalhista, tributária, monetária, da propriedade rural e urbana, etc.) são elaboradas no Legislativo, eventualmente no Executivo e cada vez mais no Judiciário.

Em um país de grande concentração de riqueza e renda, de elevado grau de urbanização, de grande penetração dos meios de comunicação, de sistema democrático e eleitoral relativamente livre de fraudes, seria natural que a enorme maioria da população (que é pobre ou no máximo remediada) elegesse a maioria dos representantes no Congresso, que deveriam ser como ela pobres e remediados e, portanto, legisladores dispostos a redistribuir a riqueza e a renda ou pelo menos a minorar os mecanismos de concentração.

Não é isto o que ocorre.

A ínfima minoria milionária e bilionária tem, assim, de procurar instrumentos para influir no processo político para evitar esse tipo de legislação e de ação redistributiva no Executivo. Essas, quando ocorrem, são taxadas de comunistas, socialistas, nacionalistas, e hoje em dia de bolivarianas.

O primeiro e mais importante desses instrumentos é o financiamento privado (empresarial) das campanhas eleitorais.

O segundo instrumento é o controle dos Partidos para que estes escolham como seus candidatos indivíduos que sejam favoráveis à sua visão (isto é, daquela minoria) da sociedade, ainda que não sejam eles mesmos, do ponto de vista pessoal, detentores de riqueza e renda elevadas.

O terceiro instrumento é o controle dos meios de comunicação para convencer a população das deficiências do Estado, do caráter corrupto dos candidatos dos Partidos e das políticas populares (isto é, daqueles comprometidos com programas de reforma social que leva à desconcentração de riqueza e renda).

O quarto instrumento é a campanha permanente dos meios de comunicação de desmoralização da atividade política, do Estado e dos políticos para manter a maioria do povo afastada da política. Uma das formas de manter o povo afastado da política seria a aprovação do voto facultativo como se este fosse apenas um direito e não um dever.

A campanha pela reforma política deve se concentrar no tema central do financiamento empresarial das campanhas, que é a verdadeira fonte de corrupção e de controle oligárquico, não democrático, da sociedade por aqueles que concentram o poder econômico e controlam os meios de comunicação.

Os representantes das forças conservadoras no Congresso Nacional já se empenham para votar o projeto que consagra o financiamento privado, isto é, empresarial, das campanhas eleitorais.

A consagração legal do financiamento privado consagrará o sistema fundamental de corrupção do processo político que tem como objetivo impedir a desconcentração de riqueza e renda que torna o Brasil um dos países mais injustos do mundo.

*Professor e embaixador brasileiro.

Só um imoral é capaz disso

Existe um mau-caráter chamado Felipe Moura Brasil, que ajuda a aumentar a imundície da Veja, que me faz perder o comportamento civilizado e recomendar que, se acaso passar perto de mim, guarde distância.

Publicou, naquele pântano moral, uma nota dizendo que a mulher de Alexandre Padilha teve “atendimento vip” numa clínica do SUS onde fez o parto de sua filha.

O “atendimento vip” foi, na verdade, a emergência de um parto prematuro, com ocorrência de pré-eclâmpsia da mãe.

Se este desclassificado não sabe, muitas mulheres e crianças morrem por isso.

Entre eles, aquele que seria meu primeiro neto, há um ano.

E não foi no SUS, mas num conceituado hospital de São Paulo, pago com recursos dele.

Felizmente, no caso da mulher de Padilha, houve diagnóstico prévio e o pior pôde ser evitado.

Há um limite para o mau-caratismo, senhor Felipe.

Os seus colegas de atrofia moral de uma página de médicos (!?) criada para combater o “Mais Médicos” mostraram, ao divulgar comunicações entre os médicos ou pessoal médico da unidade, que tipo de formação têm.

E se Padilha tivesse ou tiver chamado amigos ou conhecidos médicos – afinal, ele é médico e deve tê-los – teria feito o que qualquer um faria.

Quando Brizola teve um infarto, dentro do Hospital São Lucas, eu pessoalmente liguei – sem o menor constrangimento para ninguém – para o Dr. Adib Jatene, que se prontificou a tomar um avião para o Rio mas me informou que – após conversar com os médicos do hospital, a quem levei o telefone celular dentro do centro cirúrgico – que não havia o que pudesse ser feito.

Muitos dos leitores talvez já tenham acompanhado ou vivido a angústia do nascimento de um prematuro e de complicações para a mãe.

É um sofrimento alucinante, muito maior do que aquele que se tem nas nossas próprias crises de saúde, porque já vivemos a vida, afinal.

Fazer o que este energúmeno faz não tem justificativa.

Louvo a serenidade do avô da menina, Anivaldo Padilha, que lhe respondeu com uma civilidade que eu não teria, através de declarações que reproduzo abaixo:

“Estamos indignados, é falta de ética querer usar um parto para atacar o SUS. É mentira dizer que residentes foram tirados da sala ou que minha neta foi para um hospital privado e tudo o mais que alega esta página do Facebook de médicos sem ética alguma”

“É lamentável que páginas como esta sejam amplificadas nas matérias de jornal. Isso não é liberdade de expressão, não tiveram responsabilidade ética ao publicar isso e os médicos desta postagem não tem ética médica. Não posso acreditar! Estamos falando de um hospital-maternidade de referência, é muita irresponsabilidade dessas pessoas”

Eu não tenho plano de saúde também, não tenho nada contra os que têm, mas é uma escolha consciente de nossa família que tanto lutou e luta pela Saúde Pública. Eu uso SUS, Padilha usa o SUS. Se não usasse seria atacado, quando usa é atacado. É impossível dialogar com este grupo sem ética que já falsificaram até diploma para atacar meu filho.”

Por acaso, sem que ele soubesse quem eu era, tive oportunidade de acompanhar o trato gentilíssimo de Alexandre Padilha com as pessoas, pois morei no mesmo apart-hotel que ele, quando ministro.

Não precisa que eu tome suas dores, escrevo pelas minhas, mesmo.

OAB enquadra Joaquim Barbosa no caso Cardozo

Nota assinada pelo presidente Marcus Vinícius Furtado Coêlho e por outros dirigentes da Ordem dos Advogados do Brasil, divulgada nesta terça-feira, enquadra o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa; "O advogado possui o direito de ser recebido por autoridades de quaisquer dos poderes para tratar de assuntos relativos a defesa do interesse de seus clientes. Essa prerrogativa do advogado é essencial para o exercício do amplo direito de defesa. Não é admissível criminalizar o exercício da profissão", diz o texto; Barbosa, que é pré-candidato à presidência da República em 2018, disse falar em nome dos 'brasileiros honestos' e exigiu a demissão do ministro José Eduardo Cardozo, da Justiça, que recebeu advogados de empresas investigadas na Lava Jato; acabou como a piada do Carnaval 2015

O ex-ministro Joaquim Barbosa, que fez da Justiça um trampolim para a política e causou polêmica com sua exigência de demissão do ministro José Eduardo Cardozo (leia mais aqui), foi repreendido, em nota, pela Ordem dos Advogados do Brasil.

Barbosa exigiu – isso mesmo, exigiu – a demissão de Cardozo, porque o ministro recebeu advogados de empresas investigadas na Lava Jato. Na nota, a OAB lembrou que ser recebido por autoridades públicas é uma das prerrogativas do advogado – função que Barbosa, supostamente, passou a exercer depois de deixar o STF – e também um dever do servidor público.

O ex-ministro, no entanto, tentou apenas aproveitar uma brecha no noticiário para voltar a ser o que sempre foi: um político, que se vale do populismo mais rasteiro para seduzir corações e mentes (leia mais a respeito).

Leia, abaixo, a nota da OAB nacional:

Nota da OAB Nacional

O advogado possui o direito de ser recebido por autoridades de quaisquer dos poderes para tratar de assuntos relativos a defesa do interesse de seus clientes. Essa prerrogativa do advogado é essencial para o exercício do amplo direito de defesa. Não é admissível criminalizar o exercício da profissão.

A autoridade que recebe advogado, antes de cometer ato ilícito, em verdade cumpre com a sua obrigação de respeitar uma das prerrogativas do advogado. A OAB sempre lutou e permanecerá lutando para que o advogado seja recebido em audiência por autoridades e servidores públicos.

Diretoria da OAB Nacional

Marcus Vinicius Furtado Coêlho - Presidente
Claudio Lamachia - Vice-presidente
Cláudio Pereira de Souza Neto - Secretário-geral
Cláudio Stábile - Secretário-geral Adjunto
Antonio Oneildo Ferreira - Diretor Tesoureiro

Pará concentra 38% dos assassinatos por conflito de terra no país

O Pará registrou 645 mortes por conflitos no campo entre 1985 e 2013, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT). O número é quase cinco vezes maior que o registrado pelo segundo estado no ranking de assassinatos por questões fundiárias, o Maranhão, com 138 casos no mesmo período.

Por Paulo Victor Chagas, da Agência Brasil

De acordo com a coordenadora nacional da CPT, Isolete Wichinieski, os números de morte por disputa por terra no Pará também são superiores aos registrados em toda a Região Nordeste, composta por nove estados e que contabiliza 424 vítimas no período.

“De 2005 até 2013, o Pará teve 118 casos de assassinatos. Há também um grande número de ameaças de morte”, conta ela, antes de confirmar que a missionária Dorothy Stang, assassinada no dia 12 de fevereiro de 2005, estava na lista de pessoas ameaçadas do ano anterior. O documento é divulgado anualmente pela CPT.

Para o procurador do Ministério Público Federal no Pará, Felício Pontes, houve uma diminuição, nos últimos anos, do número de mortes por conflitos agrários. A situação no estado, entretanto, ainda inspira cuidados.

“Não tenho dúvida de que na região houve uma diminuição dos conflitos. Mas eu continuo achando que se a gente levar em consideração o Pará, em termos gerais, o índice ainda é alto, muito alto”, frisa Pontes.

Segundo ele, o estado “precisaria de três andares de terra” para dar conta de abrigar todas as pessoas que têm títulos concedidos por cartórios – muitos deles irregulares por causa de fraudes e grilagem de terra – e dizem ser proprietários de terrenos.

O ouvidor agrário nacional, desembargador Gercino José da Silva Filho, também confirma a diminuição no número de conflitos e mortes nos últimos anos no estado.

“Depois do caso da irmã Dorothy, melhorou a especialização dos órgãos nas questões agrárias e a prova maior é que o Pará é, hoje, o estado mais bem preparado para enfrentar os conflitos agrários, uma vez que tem várias promotorias de justiça, vários juízes agrários, vara agrária, defensorias públicas agrárias, polícia civil agrária, ouvidorias agrárias. E isso contribuiu para diminuir o número de conflitos e de violência no campo no estado do Pará.”

Na avaliação do advogado da CPT no Pará, José Batista Afonso, os conflitos são mais intensos porque o estado fica na fronteira de expansão do agronegócio em direção à Amazônia. “Expansão da pecuária extensiva, principalmente no estado do Pará, da soja em Mato Grosso, de várias monoculturas em Rondônia e também da pecuária extensiva, da soja no Maranhão, no Tocantins, e do eucalipto. O agronegócio vai empurrando essas atividades em direção à Amazônia. Isso vai pressionando e gerando conflito com as comunidades que já residem aqui”, complementa.

Atuante no município de Anapu desde 1982, a missionária Dorothy Stang conhecia a realidade de disputa por terra no estado e sabia que corria riscos por sua postura de luta em favor do assentamento de pequenos agricultores.

“Eu falei com ela: 'Não é assim, você está mexendo com gente perigosa'”, relembra Rosa Marga Rothe, amiga da missionária.

“Os próprios companheiros dela e amigos de luta achavam que ela estava sob risco e que deveria se afastar por um tempo. Ela achava que ou tem proteção para todos [ou não tem para ninguém] Por que tem só para ela?”, lembra Nilmário Miranda, que na época do assassinato era ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos.

Criado em 2004, o Programa de Proteção dos Defensores de Direitos Humanos é, na avaliação de Nilmário, essencial. Ele destaca, entretanto, que o número de pessoas que precisam de proteção é muito superior à capacidade do Estado de auxiliar.

“Ele [o programa de proteção] é absolutamente essencial, mas se você tira um defensor dos direitos humanos do meio em que está atuando em defesa dos povos, da justiça social, as pessoas não querem, porque perde o sentido. Ela vai ser deslocada para outro lugar, mas também vai deixar de cumprir a sua missão, sua tarefa.”

Para Nilmário Miranda, a solução para proteger de forma eficaz os defensores de direitos humanos é identificar a origem da ameaça. “Agir antes que ele [o defensor] se torne mais uma vítima desses bandidos, grileiros, pessoas sem escrúpulos, que não têm o menor respeito pelo direito à vida”, opina o ex-ministro.

Já o procurador Felício Pontes acredita que os camponeses devem se unir e não partir para o confronto com fazendeiros ou madeireiros. “Eles devem estar juntos no sindicato de trabalhadores rurais, em uma associação comunitária, e essa associação, essa personalidade jurídica, é que tem que fazer a relação com o Poder Público. Para que a gente não exponha mais ninguém”, destaca.

Na avaliação do padre Paulo Joanil da Silva, da coordenação regional da CPT no Pará, os conflitos são resultado de um problema histórico: a falta de um processo de reforma agrária. “Isso é uma decisão política: não vamos fazer reforma agrária. Isso acirra ainda mais o conflito pela posse da terra, pelo direito do trabalho, pelo direito de viver da população camponesa e abre um precedente para a invasão de grandes projetos econômicos, o agronegócio e a mineração”, critica.

Um novo fator que promete agravar a situação fundiária no estado é a migração de pessoas à procura de emprego em cidades pequenas que abrigam grandes projetos. É o caso de Altamira – com 99 mil habitantes segundo o Censo de 2010 – município mais próximo ao canteiro de obras da hidrelétrica de Belo Monte e que faz divisa com Anapu. Em 2013, a obra contava com 22,5 mil trabalhadores contratados. A expectativa era que o canteiro abrigasse até 28 mil funcionários.

“Os grandes projetos que são instalados para viabilizar essa produção, de produção de energia por exemplo, acabam atraindo migrantes para cá. E os trabalhadores que migram para cá, grande parte deles não consegue emprego nessas empresas e acaba indo para ocupação urbana ou rural”, analisa o advogado da CPT no Pará, José Batista Afonso.

Wladimir Pomar: O boquirroto FHC e o rumo do retrocesso

O ex-presidente FHC continua pontuando, apesar do descalabro em que deixou o Brasil. Como boquirroto, no entanto, em recente artigo ele nos brinda com o programa que as forças conservadoras estão colocando em ação. 

Por Wladimir Pomar*, no Correio da Cidadania

Segundo ele, é preciso começar mudando a visão de mundo segundo a qual o Ocidente estaria “em declínio” e que, de sua crise, os Brics, o mundo árabe e o ex-terceiro mundo teriam papel de destaque. Por quê? Porque isso não estaria acontecendo.

Para FHC os EUA salvaram seu sistema financeiro, afogaram o mundo em dólares e deram uma “arrancada forte na produção de energia barata”. Ou seja, FHC não entende que a “salvação” do sistema financeiro norte-americano e o afogamento do mundo pelos dólares é justamente o sinal mais evidente do declínio dos EUA. Fazem isso à custa da sua indústria e do trabalho. Mais de 50 milhões de norte-americanos vivendo abaixo da linha da pobreza é um dos sinais mais evidentes da ladeira em que ingressou seu “way of life”. E os problemas ambientais e sociais causados pela exploração do xisto estão rapidamente se transformando de barato em caro.

Estranhamente, FHC nada diz sobre a Europa saindo do declínio, já que lá não há qualquer sinal de fumaça. Ele prefere falar dos árabes “se estraçalhando”, sem lembrar que isso se deve, em grande medida, à interferência estadunidense, que armou os talibãs, Al Qaeda, ISIS e outros grupos que, como Frankenstein, se voltam contra seu criador. Ou diz, com desdém, que a Rússia “passou a ser produtora de matérias-primas”, ignorando os projetos de suas relações com a China e esquecendo que ele próprio, FHC, cumpriu o vergonhoso papel de transformar o Brasil na mesma condição.

De passagem, reconhece que “só a China foi capaz de dar ímpeto à sua economia”. Mas tira como única conclusão desse fato que “as próximas décadas” serão de “coexistência competitiva” entre os EUA e a China. Em virtude disso, partes da Europa se integrarão “ao sistema produtivo norte-americano”, enquanto as “potências emergentes”, como o Brasil, México e África do Sul, terão que buscar “espaços de integração comercial e produtiva para não perderem relevância”.

FHC sabe que o “sistema produtivo norte-americano” é o sistema corporativo de suas transnacionais globalizadas, enquanto o território estadunidense se encontra num perverso processo de desindustrialização. E que as corporações europeias travam uma competição incessante com as norte-americanas e japonesas, enquanto as “potências emergentes” estão justamente articulando-se através dos BRICS e outros acordos para enfrentar a competição destrutiva das corporações globais e não perder relevância. Apesar disso, omite que o Brasil perdeu relevância justamente durante seu governo, por se subordinar à lógica dessas corporações.

Porém, nada disso parece importar. A ótica consiste em fazer com que a politica externa brasileira mude de foco. Abra-se ao “Pacífico”; estreite “relações com os Estados Unidos e a Europa”; faça “múltiplos acordos comerciais”; não tema a “concorrência”; ajude o país a “se preparar para ela”; volte a “assumir seu papel na América Latina”; livre-se do “bolivarianismo prevalecente”; se engaje no “Arco do Pacífico”; se livre do abraço das “irracionalidades argentinas”; dê mais atenção ao “aumento da produtividade, sem redução dos programas sociais”; não restrinja o “aumento da produtividade ao chão das fábricas”; realize um “ousado programa de ampliação e renovação da infraestrutura”; dê “maior atenção à qualificação das pessoas” e “às suas condições de saúde, segurança e transporte”; abaixe “os impostos sem selecionar setores beneficiários”; e abra “mais a economia, sem temer a competição”.

Ou seja, por um lado, FHC sugere que a política externa volte a ser aquela que implantou durante seu período neoliberal, com o agravante de que considera o Pacífico um oceano norte-americano, sequer comentando que o eixo principal de desenvolvimento mundial se deslocou para o sudeste da Ásia, ou o Pacífico oriental. Por outro lado, sugere o contrário do que fez durante seus oito anos de governo. Não esqueçamos que nesse período o “chão das fábricas” foi em grande parte destroçado e desnacionalizado pela ação das corporações estrangeiras, a infraestrutura foi sucateada, o ensino profissional foi quase destruído, a educação e a saúde foram privatizadas e desqualificadas, os impostos continuaram elevados, e a economia foi totalmente aberta para os oligopólios internacionais. Ou seja, se sua política externa é de subordinação aos EUA e Europa, sua política interna será a mesma de quando foi presidente.

Basta ver que, para realizar tal programa, FHC propõe a “redefinição das relações entre o governo e a sociedade, entre o Estado e o mercado”. Como? Despolitizando “as agências reguladoras”, estabilizando “os marcos regulatórios”, revigorando e estimulando “as parcerias público-privadas para investimentos fundamentais”. Ou seja, fazendo “com competência o que o governo petista paralisou” e o governo Dilma “vê-se obrigado a fazer”, mas “atabalhoadamente”, deixando de mobilizar o “setor privado, os investimentos na escala e na velocidade necessárias para o país dar um salto em matéria de infraestrutura e produtividade”.

O problema da infraestrutura e da produtividade consiste em que FHC não tem moral alguma para dar lição a ninguém. Seus governos foram um fracasso total e uma auditoria a respeito poderia levá-lo a ser qualificado como algo mais grave do que “atabalhoado”. Mas FHC, para justificar seus pontos de vista, vê-se constrangido a acusar os governos Lula e Dilma de “anti-privatistas e estatizantes”, algo que não tem comprovação empírica alguma. Pela esquerda, ambos têm sido qualificados como “privatistas” e “pouco estatizantes”, ambos acreditando que a burguesia, mesmo com juros reais de 5% ou mais, seria empreendedora industrial ao invés de jogar nas bolsas.

Certamente, ambos garantiram que as estatais não continuassem sendo privatizadas, o que deixaria o Estado sem qualquer instrumento de orientação econômica, mas o setor privado brasileiro há muito não se desenvolvia tanto como nos últimos 12 anos. A tal ponto que sua ânsia de lucros abusivos o levou a praticar a corrupção numa escala desmesurada, como está sendo demonstrado pela operação Lava-Jato. Portanto, se algo pode ser criticado nos governos Lula e Dilma é que deveriam ter fortalecido a ação controladora do Estado para criar maiores barreiras à corrupção, algo para o qual as agências reguladoras se mostraram incompetentes.

O objetivo de FHC é, porém, mais específico. Quase como advogado das corporações petrolíferas estrangeiras, reclama da definição do modelo de exploração do pré-sal, que garantiu a Petrobras como operadora única e participante acionária de 30% de qualquer consórcio de exploração dos poços da área. Embora o leilão de Libra tenha demonstrado que isso não afugenta os interessados, não reduz o potencial de investimentos em sua exploração, nem diminui os recursos que o Estado poderia obter com o regime de partilha, FHC teima em repetir que o modelo “é ruim para a Petrobras e péssimo para o país”. A Chevron e congêneres certamente agradecem.

A sanha doutoral de FCH não para por aí. Ensina que “tão necessário quanto recuperar o tempo perdido e acertar o passo nas obras de infraestrutura, será desentranhar da máquina pública e, sobretudo, nas empresas estatais”. Segundo ele, “felizmente nem todas cederam à sanha partidária”. Esquece que, em sua época, as estatais, além da privataria que as arrebanhou, não estiveram livres das indicações partidárias do PSDB e confraria.

No mesmo tom professoral, ele conclama o restabelecimento do “sentido de serviço público nas áreas sociais, de Educação, Saúde e reforma agrária, resguardando-as do uso para fins eleitorais, partidários ou corporativos”. Clama pela revalorização da “meritocracia”; pela “obsessão” no “cumprimento de metas” para um “salto na qualidade dos serviços públicos”; pela “cultura de planejamento”; pela “cobrança por desempenho e avaliação de resultados”, sem “marketismo”. É como se dissesse que, em sua experiência de governo, esteve isento do “sistema de cooptação, barganhas generalizadas, corrupção, despreparo administrativo e voluntarismo”. Haja “esquecimento”!

Assim, sem qualquer pudor, FHC quer “redesenhar a rota do país”, com “mudanças no governo”. Haveria “um grito parado no ar, um sentimento difuso, mas que está presente”, cabendo “às oposições expressá-lo e dar-lhe consequências políticas”. Essa “esperança” do ex-presidente parece estar sendo posta em prática pelo PMDB e outros partidos da base “aliada” e da oposição ao governo Dilma. Eles o estão emparedando para cumprir o programa desenhado por FHC. E estão avançando na reforma política de seus sonhos, para evitar que os trabalhadores e o povo tenham voz e participação, e se contentem com o voto como expressão máxima da democracia. Estamos ingressando no rumo do retrocesso.

*Wladimir Pomar é analista político e escritor.

Tarso Genro: Decadência da Democracia e Reforma Política

Os períodos de decadência das relações que estabilizam um determinado contrato social, acossado por problemas econômicos (mais ou menos crônicos, para os quais não existe saída à vista) são períodos dolorosos. Mas podem ser extremamente ricos, quando são interrompidos por saltos revolucionários, por reformas radicais ou por reformas "concertadas".

Por Tarso Genro*

Estas podem ocorrer quando não existem grupos organizados com um grau de superioridade que possa dispensar negociações com adversários ou inimigos, para o enfrentamento de situações críticas.

"A causa mais importante - e sintoma - da decadência de um regime é a perda de prestígio e respeito entre o público em geral e a perda de confiança dos líderes em seu próprio direito e capacidade de governar". A Revolução Inglesa - da Revolta Puritana de 1640, à "Gloriosa" em 1688 - antecedeu em 150 anos a Revolução Francesa. Talvez tenha sido a revolução burguesa que teve o protagonismo mais concentrado num "grande intermediário", que imprimiu no processo político a sua vontade de aço com efeitos mais duradouros: o Lord Protector, Oliver Cromwell, que guiou a revolução a partir de 1653.

Cromwell organizou a força militar do Parlamento, sedimentou determinados valores morais e instituiu um consenso pelo convencimento e pela força, que consolidou uma clara hegemonia político-militar e abriu caminho ao desfecho da "Gloriosa".

As instituições que forjaram a democracia moderna, fundadas na Gloriosa e na Revolução Francesa - regime baseado em decisões majoritárias com liberdade política, igualdade formal, inviolabilidade dos direitos assegurados em lei - têm como um dos seus "pontos fortes" - para usar uma expressão de Gianfranco Pasquino - a sua "flexibilidade institucional".

Os regimes autoritários tem pouca flexibilidade institucional. Quando "flexionam" abrem as portas para a sua substituição, negociada ou violenta, pelos regimes democráticos. As democracias, porém, quando "flexionam", tanto podem constituir mais condições democráticas para a vida comum, como menos condições democráticas para a vida da maioria.

As democracias mais maduras tem a capacidade, em regra, de manter a "moldura institucional", formal, de caráter libertário, originária das revoluções que as forjaram, mesmo quando se tornam objetivamente mais autoritárias, oportunidade em que bradam o argumento do “terrorismo” ou do “inimigo externo”. Estas democracias mais maduras têm uma flexibilidade institucional mais larga, mas por outro lado podem exercer a “exceção” com mais legitimidade.

Dentro de um mesmo regime político, portanto, pode se ter tanto mais democracia, como menos democracia, independentemente de que a sua decadência seja obstruída ou não. Mas, se a decadência não é enfrentada, a democracia tende a ser superada, tanto por uma ditadura "aberta", com maiores ou menores traços fascistas, como por um regime autoritário que use abusivamente da exceção. Um regime autoritário, não ditatorial, frequentemente leva a flexibilidade das instituições, em algum momento, a um ponto de "quebra". Este fenômeno ocorreu aqui no país, com a edição do AI/5 (2 de setembro de 1968), e na Bolívia (1990-2000), com o “golpe branco” do ex-Presidente, hoje preso, Alberto Fujimori.

A "decadência" democrática, embora com visibilidade especial na atual conjuntura do país, não é uma questão nova no mundo. A partir da deterioração do curto reinado socialdemocrata, que espalhou experiências positivas de coesão política em torno do Estado Social de Direito em dezenas de países do ocidente, tomou-se consciência plena de uma "crise da democracia". Decadência, crise e “ajustes”, se convertem um no outro, necessariamente, nos últimos 40 anos.

A decadência, como crise em processo, converte-se em crise da política, impulsionada pela sucessão de ajustes exigidos pelos credores-manipulares da dívida pública. Hobsbawan referiria a este processo, depois da derrocada soviética, como a trágica "herança dos vencedores", que já era visível desde a década de 70 do século XX. Foi o impulso de degeneração da política, com argumentos de “técnica” econômica (chamada pelos primeiros experimentos ultraliberais) que transformaram a dissidência política da esquerda, em particular, num confronto da política, em geral, com a racionalidade urgente do capital financeiro.

Entre vários, um livro importante tratou do assunto na década de noventa. E não foi escrito por nenhum revolucionário marxista, "Rebelião das Elites e a traição da democracia", de Christopher Lasch: "A democracia - diz o autor - exige também uma ética mais fortalecedora do que a tolerância. A tolerância é uma coisa boa, mas é apenas o ponto de partida da democracia, não o seu destino. Na nossa época, a democracia está sendo ameaçada mais seriamente pela indiferença do que pela intolerância ou superstição.”

A transição, nos últimos cinquenta anos, de um capitalismo industrial mais estabilizado e previsível, para um capitalismo capturado pelos movimentos globais indeterminados do dinheiro (e para a abertura de um espaço de anomia para a acumulação sem trabalho) teve um impacto profundo nos países de fora do núcleo orgânico do sistema do capital. São países que enfrentaram os desafios de governar adaptando, em menor ou maior grau, a visão clássica da soberania antimperialista (com possível respaldo no "bloco soviético"), para uma nova postura visionária de cooperação interdependente com soberania (com o alargamento de todas as relações internacionais).

Embora estejamos nos referindo ao quadro das democracias nas sociedades capitalistas, a questão democrática - tomada como o avesso do autoritarismo e da centralização burocrática do poder - é uma questão universal. Ela se evidencia também (e ainda com mais força penetrante) no Estado e na vida cotidiana de um autêntico projeto socialista. É István Mézáros quem lembra: “O grande erro das sociedades pós-capitalistas foi o fato de elas terem tentado compensar a determinação estrutural do sistema que herdaram pela imposição, aos elementos adversários, da estrutura de comando extremamente centralizada de um Estado político autoritário."

Sem a perspectiva revolucionária, a nova forma de conexão de países como o nosso com o mundo imperial-financeiro, subsumida no poder direto da especulação e da reprodução mais artificial do dinheiro, passou a se constituir como o limite máximo de liberdade. Um limite aberto à experimentação de formas alternativas à dependência integrada, sem soberania (como é o propósito ultra ou neoliberal), mas também um limite bloqueador de mudanças mais radicais nas formações sociais dependentes (como se vê dos impasses, por exemplo, da “saída grega”).

No caso do Brasil, através destas formas alternativas, é reestruturada a sociedade de classes dentro da democracia a partir de 88. A própria "questão democrática" que emerge destas mudanças, do ponto de vista social - menos desigualdades e mais oportunidades- passa a enfrentar novos desafios. Os desafios aparecem como fortes demandas na área dos serviços de saúde, transportes urbanos, educação de qualidade, empregos mais qualificados, demandas que, não respondidas, começam a reduzir o apreço da cidadania à política e, logo, à forma democrática de resolução dos conflitos. Os novos desafios também antagonizam a cidadania com o Estado endividado, que não consegue preservar o seu sentido de “público” de maneira ampla, ao responder as demandas de maneira apenas retórica e precária.

Os novos conflitos nesta sociedade classista reestruturada, portanto, são integrados por novos sujeitos sociais – trabalhadores dos setores clássicos do capitalismo ou dos novos serviços e prestações - que aparecem na cena pública agendados pelo próprio sucesso do desenvolvimento alternativo. Aparecem, também, os velhos sujeitos com novos papéis, necessidades e desejos incomuns, bolsões de inconformidade que experimentam novas formas de luta. Lutas que misturam de forma espontânea, vontade revolucionária sem estratégia e sem concepção de revolução, com confrontos radicalizados de natureza corporativa.

O Estado, ancorado na dívida para se financiar, não tem condições imediatas de atender aquelas demandas mais importantes, mesmo com a máxima vontade dos gestores públicos de qualquer nível ou compromisso ideológico, de qualquer ideologia. A sociedade fragmenta-se; a política desprestigia-se e o dinheiro, que era relevante como organizador da política democrática, passa a ser a sua própria força reguladora, em todas as esferas de disputa.

As instabilidades nas "negociações" que caracterizam qualquer democracia, não só tem razões materiais e políticas de fundo, mas também são produto de estímulos “pensados” pelos gestores políticos dos grandes meios de comunicação, que já se constituem como novos partidos organizadores da agenda neoliberal. Estes aparatos partidários de novo tipo, na verdade, capturaram o "programa" dos partidos tradicionais mais reacionários e/ou conservadores e optaram por solucionar as crises, sustar a decadência democrática, em função dos seus interesses estratégicos de dominação, não com mais, mas com menos democracia.

Democracia despida, portanto, tanto de conflitos como de processos de concertação, para torná-la dirigida por uma "visão técnica", sem política, sem ruas em movimento. Ação política “limpa” de qualquer resíduo popular, apoiada nas altas classes médias e na alta burocracia estatal de todos os Poderes. O sistema político, bloqueado. Os partidos, desmoralizados. O povo, insatisfeito. Está dado, assim, o quadro para no mínimo a hidra totalitária expressar-se precariamente como uma tentação autoritária, com uma “flexibilidade institucional” à direita.

Mesmo os processos de "concertação" como instrumentos de produção ideológica de políticas democráticas, não são aceitos pelo neoliberalismo, porque causam problemas para a fluidez das operações do capital financeiro. Este exige urgência e disciplina porque precisa acumular celeremente, “sem trabalho” e sem política, para mover-se principalmente a partir da especulação da dívida pública. O ritual democrático, o diálogo, o debate parlamentar, a participação direta da cidadania nas questões públicas, irrita os defensores do projeto neoliberal. Eles veem, no “público”, uma barreira à “naturalização” do domínio do mais forte, que detém o dinheiro cada vez mais “falso” e mais descolado da produção.

A relação do dinheiro com a política não é necessariamente ilegal, é óbvio, mas, drenado legal ou ilegalmente para a política, sempre foi um fator de desigualdade nas disputas eleitorais. Enquanto esta relação funcionava na legalidade formal, apenas como um elemento de desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres para fazer política -ou seja, uma corrupção substancial da igualdade dentro dos marcos da legalidade - o dinheiro na política não era objeto da preocupação das classes dominantes. E, muito menos, dos oligopólios da mídia, que sempre consideraram estas desigualdades reais no processo político como uma fatalidade "natural" numa sociedade que reproduz, incessantemente, dentro da própria democracia, as desigualdades políticas, também fundadas no próprio sistema do capital.

Mesmo dentro dos marcos da legalidade do Estado de Direito, a relação “legal” do dinheiro com a política nunca foi especialmente "moralizante". Nem moralizadora. Nem obstou os processos extorsivos de dominação, via corrupção e uso de dinheiro ilegal, para o fazer político. Isso ficou bem marcado, como se viu na Itália, primeiro com o próprio combate à corrupção dentro da ordem democrática, feito pela "Operação Mãos Limpas" (que flagrou um verdadeiro Estado invisível, como diz Bobbio, dentro do Estado de Direito). Segundo, após os profundos processos investigativos viu-se - com o sucesso deste combate patrocinado pelos Juízes italianos - o resultado histórico das operações moralizantes: a destruição de todo o tecido político do país e o surgimento da "era Berlusconi" (possivelmente um dos períodos mais corruptos na história recente da Europa). Ou seja, o produto da operação “mãos limpas” não foi um Estado menos corrupto, mas a estatização completa da corrupção, erguida à condição de poder supremo a partir do Governo Nacional.

Tais menções não são feitas para minimizar a importância do combate à corrupção, independentemente dos excessos que sejam cometidos e da glamourização dos "Juizes da vez", cortejados e incensados pela mídia, como infalíveis, desde que cumpram as agendas por ela exigida. Trata-se de marcar a importância da luta total contra a "dinheirização" da política em todos os níveis, legais ou ilegais. Luta que coloca na ordem do dia os aspectos mais importantes de uma Reforma Política, tais como a criação de normas que obstruam a "venda" de tempo de televisão, por partidos do "mercado" eleitoral, bem como a proibição de empresas financiarem partidos e campanhas eleitorais.

Este “programa mínimo” é que deveria ocupar os partidos de esquerda e o centro democrático e progressista, que pretendem se contrapor ao decadentismo neoliberal. É preciso que fixemos um ponto de acordo no interior da esquerda que, por mais divergências que tenhamos, deve nortear uma estratégia de médio prazo: a decadência das instituições democráticas e da democracia política, asfixiada pela mídia partidarizada, favorece a emergência de um fascismo novo tipo e não de um socialismo novo tipo, que não será construído fora da democracia política.

A conversão do dinheiro em política e da política em dinheiro, faz parte do "ser social" do capital. Nele, o dinheiro necessariamente faz a mediação do fazer político, ora como moldagem da ação, construindo, limitando ou ampliando a potência construtiva ou destrutiva da política; ora, sendo ele mesmo (o dinheiro) o conteúdo da política, quando, de forma direta, compra e vende consciências, posições e organismos invisíveis, legais ou ilegais, para constituir o fazer político com o objetivo de acumular.

Sem desrespeitar frontalmente as leis, mas afrontando princípios da constituição democrática, a “dinheirização” da política com a “compra” de siglas e o financiamento empresarial legal de partidos e eleições, são procedimentos tão substancialmente corruptos como as ilegalidades que promovem interesses de empresas ou carreiras corrompidas, às vezes consideradas como excepcionais. Este sistema opera, para ser eficaz, naquela "zona gris", como diria Ibsen, não necessariamente contra a lei, mas tampouco moralmente correta ou legítima, do ponto de vista dos princípios da ordem constitucional democrática.

No campo mais rebelde e fragmentário da crise democrática, as novas formas de luta, inclusive as militâncias "pré-figurativas" que se conformam como resistência e moda política (que não se sabe, ainda, para onde se dirigem), sejam elas de natureza ambientalista (“Salvem as baleias!”), seja através da exibição do "valor" do corpo, como protesto; seja através de ações diretas contra a ordem do capital, todas elas como formas de militância, necessitam de uma estética apropriada, com custos para que possam ser devidamente midiatizadas. Não há, hoje, política sem dinheiro ou qualquer disputa pública importante sem custo.

As reformas para reduzir a "dinheirização" da política, conter custos das campanhas, reduzir a desigualdade de meios e desestimular as militâncias mercenárias, que são produtos do dinheiro de fontes, tanto legais como ilegais, é o mínimo que poderá alterar a rota decandentista da nossa democracia.

A crise da nossa democracia, hoje, está representada, midiaticamente, pela corrupção, que as empresas de comunicação tradicionais identificam mecanicamente com a política e com os políticos, para se apropriarem da agenda política nacional e monopolizarem a formação da opinião política de uma maneira totalitária. Mas, a essência da crise é a “dinheirização”, legal ou ilegal, cada vez mais forte da política, porque através deste mecanismo de controle, a democracia decai da sua autonomia relativa (moldada pela consciência dos indivíduos livres), para se tornar um movimento cada vez mais mercantil e dependente, que sufoca a promessa das Grandes Revoluções – da Gloriosa e da Francesa – de igualdade e inviolabilidade dos direitos.

*Foi governador do Rio Grande do Sul (-2010-2014).

(O texto será publicado em livro da Fundação Perseu Abramo, sobre Reforma Política)

Renan Calheiros é reeleito presidente do Senado Federal

O presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi reeleito neste domingo (1º), por 49 votos de 81, para mais dois anos à frente do cargo mais alto do Legislativo. Ele venceu o colega de partido Luiz Henrique (PMDB-SC), que se lançou na disputa sem apoio do PMDB.

Renan presidirá a Casa em 2015 e 2016 juntamente com a nova Mesa Diretora, que poderá ser escolhida ainda neste domingo. Luiz Henrique obteve 31 votos e houve um nulo.

A votação, que é secreta, foi feita em cédulas de papel e depositadas em uma urna. A apuração dos votos foi feita em voz alta pelo líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE).

Este será o quarto mandato de Renan Calheiros na presidência do Senado. O primeiro foi em fevereiro de 2005. Foi reconduzido em 2007, mas acabou renunciando ao cargo em meio a denúncias de que usou dinheiro de lobista para pagar pensão de uma filha fora do casamento. Reeleito senador, foi escolhido novamente para a presidência em 2013.

Ao discursar após a proclamação do resultado da eleição, Renan fez uma menção a Luiz Henrique “pela correção e espírito público verificado ao longo de sua trajetória”. “A disputa agora já é passado e todos nós ansiamos pelo futuro. Serei presidente de todos os senadores, como demonstrado nos últimos anos, desejo renovar meu firme compromisso pela autonomia e independência do Senado”, declarou.

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