Punição atinge PT, mas líderes condenados devem manter influência

Apreciação da Ação Penal 470 tem sido considerada o "julgamento do século"
As penas de prisão impostas pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no julgamento do caso do mensalão representam um golpe significativo na imagem do PT, mas os líderes do partido envolvidos no escândalo de corrupção devem continuar exercendo influência política no cenário nacional, avaliam analistas consultados pela BBC Brasil.

O STF anunciou nesta segunda-feira a pena de dez anos e dez meses de prisão para o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, mais multa de R$ 676 mil. Ele foi condenado por formação de quadrilha e corrupção ativa.
O ex-presidente do PT José Genoíno foi sentenciado a seis anos e 11 meses e multa de R$ 468 mil. O ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares, também foi condenado.

Homem forte do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, José Dirceu ainda goza de prestígio no partido e deve continuar influente, mesmo após a condenação, de acordo com analistas.

“Ele com certeza vai continuar influente. Se estiver dentro da cadeia, ele dá as ligações dele de lá”, diz o cientista político Ricardo Caldas, da Universidade de Brasília (UnB). “Estou convencido de que se alguém desse esquema for preso, eles vão continuar com os esquemas dentro da cadeia.”

Para o cientista político Matthew Taylor, da American University, em Washington (EUA), Dirceu ainda é um político muito influente, "capaz de continuar a operar, apesar de ter sido condenado no mais alto tribunal do país por alguns atos bem sujos".

Dirceu diz que é inocente. “Nunca fiz parte nem chefiei quadrilha”, escreveu em seu blog, após a condenação do STF. “Vou continuar minha luta para provar minha inocência”, acrescentou.

Em entrevista à BBC Brasil antes da definição das penas, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, não citou nominalmente Dirceu, mas falou em defesa dos líderes petistas.

“Os filiados do PT que foram condenados ainda têm recursos a utilizar e vão lançar mão de todos os meios para provar sua inocência”, disse Falcão. “E nós vamos estar solidários com eles."

Lula

Além das penas de prisão para membros da cúpula do PT, o escândalo do mensalão também poderia respingar na imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na última semana, parlamentares da oposição protocolaram na Procuradoria Geral da República um pedido de investigação sobre o papel do ex-presidente no mensalão.

Lula sempre negou que soubesse do esquema de desvio de recursos públicos, que ocorreu durante o seu primeiro mandato, entre 2003 e 2005.

Para Caldas, o ex-presidente não deve sofrer danos severos em sua imagem logo após o julgamento. A longo prazo, no entanto, Lula pode ter sua atuação revista.

“Uma coisa é o julgamento que a História vai fazer sobre o presidente Lula. Talvez, depois do processo, a História seja um pouco mais crítica com ele do que foi até agora", afirma o pesquisador. "Outra coisa é o julgamento que os eleitores vão fazer sobre ele."

Já Matthew Taylor, da American University, diz que episódio provoca uma mancha na reputação do ex-presidente, mas avalia que Lula não deve perder o prestígio internacional que acumulou. “Seu legado mais profundo, pelo qual ele é admirado no exterior, de mudança social, não vai ser manchado”, afirma.

Questionado recentemente sobre o mensalão, Lula sugeriu que a eleição de Dilma Rousseff em 2010 foi seu “julgamento”.

“A eleição de Dilma foi um julgamento extraordinário", disse o ex-presidente a jornalistas, no mês passado. "Um presidente com oito anos de mandato sair com 87% de aprovação é um tremendo julgamento e não me preocupo com nada."

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