Contrato da Odebretch para administrar a central açucareira deve vigorar por 13 anos |
A empreiteira brasileira Odebrecht vai administrar
uma central de colheita de cana e produção de açúcar em Cuba, marcando a
abertura do setor agrícola da ilha a investimentos estrangeiros.
O negócio foi confirmado pelo o embaixador
brasileiro em Cuba, José Felício, durante uma entrevista.
Segundo ele, os investimentos
brasileiros no país estão crescendo rapidamente graças a um crédito de
“cerca de US$ 1 bilhão, ou talvez um pouco mais, com o porto e com
créditos para aquisições”.
O contrato para administrar a central açucareira
“5 de Setembro” vai vigorar por 13 anos. Outras três empresas
estrangeiras estariam negociando acordos similares, mesmo diante do
embargo americano, que prevê sanções a quem investir nas propriedades
cubanas nacionalizadas.
Desde a Revolução Cubana, em 1959, o agronegócio
do país não recebe verba de outros países. Na época, a atividade foi
totalmente nacionalizada, incluindo muitos engenhos que eram controlados
pelos Estados Unidos.
A indústria açucareira foi, desde a época
colonial, o motor da economia cubana. No entanto, a partir da crise
econômica dos anos 90, entrou em decadência, reduzindo a produção que
nos anos 80 era de 7 milhões de toneladas para 1,38 toneladas na
colheita de 2011.
Mudanças
Na tentativa de revitalizar o setor, o governo
colocou à frente do ministério da Agricultura um dos generais mais
reconhecidos do país, mas depois acabou dissolvendo o ministério, o
transformando em um grupo empresarial. Mas nenhuma das medidas teve
êxito para alcançar nem mesmo as modestas metas anuais.
Autorizar a Odebrecht a investir e admnistrar
uma central açucareira é uma mostra da importância que o governo cubano
vem dando às relações com o Brasil, que no momento também está
construindo a maior obra do país, o porto de Mariel, ao custo de US$ 800
milhões.
Segundo o embaixador brasileiro, a estratégia
regional do Brasil é aproveitar o bom momento econômico para impulsionar
toda a região, visto que o país não poderia crescer à margem de seus
vizinhos mais pobres, “porque o que aconteceria é a pobreza se espalhar”.
Ele acrescentou que Cuba pensa em produzir
eletricidade com o bagaço da cana. “Nós temos experiência, nossas
plantas são eficientes e talvez se consiga algum crédito brasileiro para
importar caldeiras e turbinas para produzir eletricidade”.
Apesar de muitas especulações no passado, não
havia até então investimentos na agricultura cubano. O fato de esse
setor estar totalmente nas mãos cubanas era percebido por alguns como um
símbolo de soberania nacional.
Biocombustível
Outro problema enfrentado pelo governo cubano
era o fato de muitos investidores estrangeiros quererem produzir açúcar
para gerar biocombustíveis, algo que o ex-presidente Fidel Castro havia
dito, publicamente, que era radicalmente contra.
O que ocorreu então foi que o governo deixou de
lado a agroindústria no país, reduzindo sua produção para a metade – 70
centrais foram fechadas e milhares de trabalhadores foram relocados.
A medida teve o impacto de um tsunami social, que acabou transformando os povoados ao redor dos engenhos em cidades-fantasma.
Durante a primeira metade do século 20, os
Estados Unidos compraram uma cota de açúcar de Cuba com preços
preferenciais, o que permitia manter um nível estável e rentável de
vendas. No entanto, esse acordo chegou ao fim com o triunfo da
revolução.
Golpe
A reforma agrária nacionalizou as centrais
açucareiras e as terras que pertenciam a empresas americanas. Washington
reagiu eliminando a “cota” e deixando de comprar açúcar de Cuba – um
golpe que poderia ter sido fulminante para a economia da ilha.
Nesse momento, foi determinante a entra da União
Soviética no jogo, já que ela comprou toda a produção açucareira de
Cuba a preços ainda mais preferenciais do que os oferecidos aos EUA.
Dessa maneira, o setor agrícola cubano
sobreviveu, assim como a recente revolução. Mas o fim da União Soviética
mergulhou o setor açucareiro cubano em uma grave crise. Durante seu
governo, Fidel Castro decidiu então a cortar pela metade as 150 centrais
que haviam no país.
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