Lideranças que assumem o comando da China terão o desafio de mudar modelo econômico |
Uma série de desafios aguarda a nova liderança da
China, que está sendo escolhida a portas fechadas no Congresso do
Partido Comunista da China.
O Congresso, iniciado na semana passada, deve se
encerrar nesta semana com a confirmação de Xi Jinping como novo
presidente do país e com a nova configuração do Politburo do partido.
As reformas econômicas iniciadas em 1978 transformaram a China na segunda maior economia do mundo.
Mas o tamanho continental da população chinesa,
de 1,3 bilhão, significa que os problemas que os novos líderes
enfrentarão ainda são consideráveis.
Confira os assuntos que estarão na agenda política da nova liderança:
Mudança do modelo
O sucesso econômico da China tirou 500 milhões
de pessoas da pobreza. Porém, o modelo econômico que funcionou tão bem
no início da atual onda de desenvolvimento chinesa agora precisa de
mudanças.
Analistas ocidentais e chineses dizem que a
economia precisa ser novamente ajustada para valorizar mais os
consumidores do que os investimentos - muitos dos quais liderados pelo
governo e desperdiçados.
Companhias estatais que dominam muitos setores precisam ser abertas para a livre concorrência.
Em vez de defender esses gigantes estatais, o
governo deve dar mais apoio às pequenas e médias empresas, pois elas
provavelmente serão as responsáveis no futuro pelo crescimento e pela
criação de empregos.
O governo chinês diz concordar com esses
objetivos, pelo menos em seus pronunciamentos oficiais. O problema é que
tem feito pouco para alcançá-los.
Partidários do governo dizem que Pequim acabou
se desviando de seus objetivos por causa da crise financeira global, que
teria obrigado o país a promover um pacote de estímulo em vez de
reformas estruturais.
Já os críticos argumentam que o partido
Comunista está atado demais a grupos com objetivos escusos, interesses
políticos e casos de corrupção para implementar as reformas necessárias.
O ponto central da discussão é que o setor
estatal da economia produz cerca de 50% do PIB chinês, mas recebe mais
de 70% dos empréstimos bancários, com taxas de juros artificialmente
baixas.
Huo Deming, economista da Universidade de
Pequim, afirma ser "impensável" que o setor estatal chinês seja forçado a
recuar. "As empresas estatais vão se expandir de novo. Os líderes
políticos chineses querem que elas compitam com as dos Estados Unidos e
de outros países. Então, fortalecê-las é uma obrigação."
Desigualdade
A população chinesa está melhor que quando
estava quando o país começou suas reformas econômicas, em 1978. Mas o
nível de renda nas cidades aumentou muito mais rápido nas cidades do que
nas áreas rurais. O mesmo aconteceu em relação às províncias costeiras,
que se fortaleceram em relação às áreas pobres do interior.
A Academia Chinesa de Ciências Sociais afirma
que a diferença de renda entre regiões urbanas e rurais aumentou 69%
desde 1985 - criando uma das maiores diferenças de riqueza na Ásia.
O governo teme que a desigualdade possa provocar
agitação social. Para tentar evitar isso, tem implementado programas de
erradicação da pobreza em províncias pobres como Sichuam e a abolição
de um imposto agrícola secular.
Pequim também expandiu enormemente o seguro de saúde, aumentando em dez vezes o número de pessoas cobertas - para 830 milhões.
No entanto, críticos dizem que muito mais
precisa ser feito. Eles afirmam que a China gasta apenas 6% de seu PIB
em bem-estar social. Isso representa a metade do que é investido por
países com patamares semelhantes de desenvolvimento.
Parte do problema é o sistema de governo da
China. Investimentos na área social são responsabilidade de governos
locais - que afirmam não receber dinheiro suficiente para cumprir a
tarefa.
Meio ambiente
O crescimento explosivo da China criou alguns dos desafios ambientais mais complexos do mundo.
O país é hoje o maior emissor de gases
causadores do efeito estufa; porém, no futuro próximo, vai continuar a
depender do carvão como sua principal fonte de energia.
A nação viu o número de carros quadruplicar nas
ruas desde 2003. Nela se encontram hoje 20 das 30 cidades mais poluídas
do mundo.
O governo central compreende bem esses
problemas. Mas dá publicidade para histórias de sucesso como o fato de o
país ter dobrado anualmente sua capacidade de geração de energia eólica
desde 2005.
O governo também colocou em prática novas leis
para tentar resolver problemas ambientais. Porém, sua implementação -
especialmente em esferas locais - permanece irregular.
Em paralelo à tarefa de limpar um passado
marcado por "altos níveis de crescimento e poluição", a China ainda
enfrenta problemas básicos de desenvolvimento.
"Eles fizeram grandes progressos, mas ainda há
mais de 480 milhões de pessoas sem acesso ao sistema de esgotos e 120
milhões sem água tratada", afirma Joana Masic, do Banco de
Desenvolvimento da Ásia.
Expectativas crescentes
Uma vez que a população chinesa se tornou mais rica e melhor educada, suas expectativas mudaram drasticamente.
As pessoas não mais esperam somente um governo
que seja capaz de gerenciar uma economia que crie trabalhos e riqueza.
Querem serviços melhores e mais liberdade.
Mais de 6 milhões de pessoas se formam em
universidades chinesas a cada ano - um aumento de seis vezes em relação
aos número de 1998.
Cerca de 500 milhões de pessoas usam a internet,
especialmente uma rede social chamada Weibo. Telefones com acesso à
rede mundial de computadores tem ajudado ativistas a organizar protestos
ambientais.
Há porém evidências divergentes sobre a
afirmação das pessoas estarem mais contentes e ricas: Uma análise de
Richard Easterlin, da Universidade do Sul da Califórnia, diz que um
terço da população mais rica da China estava mais satisfeita com suas
vidas em 2007 do que em relação ao ano de 1990. Os outros dois terços
estariam mais descontentes.
Parte dos motivos pode estar relacionada às
aspirações do povo. As pessoas sabem que suas vidas melhoraram, mas
pensam que os outros podem estar indo melhor.
Demografia
O índice de fertilidade da China é um dos
menores do mundo, em parte por causa da política de controle de
natalidade, que proíbe que casais urbanos tenham mais de um filho - a
não ser que pai e mãe também sejam filhos únicos.
O resultado é que o país tem cada vez menos
jovens para financiar os sistemas de previdência social e saúde, e a
população envelhece cada vez mais.
A população com idade para trabalhar deve
começar a diminuir a partir de 2015 - o que deve aumentar a pressão
sobre os salários. A China logo terá mais idosos que a União Europeia.
A política de apenas uma criança por casal
também criou anomalias. Muitos casais que desejam ter um menino abortam
fetos femininos. A China tem hoje 120 nascimentos de homens para cada
100 de mulheres. Segundo estimativas, em 2020 cerca de 24 milhões de
homens chineses não encontrarão parceiras.
Acadêmicos e até analistas governamentais
defendem o fim dessa política, a fim de restaurar o apoio dos jovens ao
governo e o índice de fertilidade do país.
Mas nenhuma liderança sênior do país deu apoio
público a eventuais mudanças, temendo que elas resultem em uma explosão
populacional.
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