Gilberto Kassab revelou-se um político sólido. Hoje, é enfaticamente a
favor de tudo o que ontem atacava com firmeza. E nada impede que,
amanhã, recorra a um resoluto vice-versa.
No tempo em que a geladeira era branca, o telefone era preto e o PT
era vermelho, Kassab era malufista. Foi secretário de Planejamento da
prefeitura de Celso Pitta, mal planejada por Paulo Maluf.
De volta à prefeitura de São Paulo desde 2004 –primeiro como vice do
grão-tucano José Serra, depois como titular— Kassab arrostou ataques
implacáveis do PT.
Súbito, Kassab fez de Fernando Haddad, o candidato de Lula, sua
principal aposta para 2012. Ateou perplexidade no petismo e indignação
no tucanato. Deu de ombros. E segue em frente.
A indignação do PSDB perdeu o nexo no instante em que Geraldo Alckmin
começou a tricotar um acordo com o PP de Paulo Maluf. A irritação do PT
foi rapidamente dissolvida pelo pragmatismo de Lula.
Muitos acusam o PT de falta de miolos. Mas todos reconhecem: guia-se
por uma única cabeça. Um cérebro que, no plano federal, levou Dilma do
anonimato à Presidência. E, na esfera municipal, tenta guindar Haddad do
nada ao comando da mais rica cidade do país.
Nos próximos dias, os contatos telefônicos de Kassab com Haddad e
seus operadores resultarão num encontro. Vão à mesa os detalhes de um
acerto cada vez menos improvável.
Kassab ajeita o meio de campo. Sob atmosfera amistosa, recepcionou
nesta quarta (18) o ministro petê Alexandre Padilha (Saúde). Recebeu
dele a promessa de liberação de R$ 6,4 milhões.
A verba financiará a recuperação de dependentes químicos. Injeta
Brasília na operação da Cracolândia, até então desenvolvida em parceria
exclusiva com o governo tucano de Alckmin.
Kassab serve-se de uma parceria administrativa inatacável para
pavimentar suas maquinações políticas. Leva às raias do paroxismo o que
dissera ao abandonar o DEM para fundar o PSD, um partido que “não é de
direita, de esquerda nem de centro.”
O PSD é a legenda que veio para provar que, em política, o
‘impossível’ está contido no vocábulo ‘possível’. Um observador incauto
poderia imaginar o eleitor reagirá mal à incoerência. Tolice.
Lula já provou e Kassab não ignora: o eleitorado brasileiro é um
agrupamento de tolos dividido em duas alas. Numa, os que duvidam de
tudo. Noutra, os que já não duvidam de nada. Ambos costumam votar a
esmo.
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