O caso de Marcos
Mariano da Silva foi reconhecido pelo STJ como o maior erro judicial
da história do Brasil
Marcos Mariano foi
encontrado morto pela esposa, Lúcia, que ia acordá-lo para jantar
Foto: Alexandre
Gondim/JC Imagem
|
Morreu, na noite desta terça-feira (22),
aos 63 anos, Marcos Mariano da Silva. Ele foi a primeira pessoa a
receber indenização do Estado de Pernambuco por ter sido preso
injustamente. O pernambucano ficou 19 anos detido no Presídio Aníbal
Bruno, no Sancho, Zona Oeste do Recife, acusado de um homicídio que
nunca cometeu. Ele foi encontrado morto dentro de casa, no bairro de
Afogados, pela esposa, a dona de casa Lúcia Vicente Rodrigues. Ainda não
se sabe a causa da morte.
O caso de Marcos foi reconhecido pelo
STJ como o maior erro judicial da história do Brasil. "Apesar de tudo,
ele sempre acreditou muito na Justiça. Infelizmente, não teve condições
de completar o ciclo que tanto queria", declarou o advogado de Marcos
desde o início da ação, Afonso Bragança.
Marcos Mariano foi preso pela primeira
vez em 1976, no Cabo de Santo Agostinho, mas seis anos depois o
verdadeiro culpado foi identificado e ele foi solto. A liberdade durou
apenas alguns anos. Em 1985, ele voltou à unidade prisional porque a
polícia entendeu que ele estava foragido. Foi preciso três anos e um
mutirão processual para que a Justiça reconhecesse que Marcos estava
preso sem culpa. Durante o segundo período em que esteve recluso, Marcos
ficou cego dos dois olhos após ser ferido por estilhaços de bomba de
gás lacrimogênio em uma rebelião.
Assim que foi solto, o ex-mecânico e
ex-motorista decidiu entrar com uma ação judicial contra o Estado
pedindo indenização de R$ 2 milhões por danos morais e materiais. A
primeira parte foi paga em 2009. Com o dinheiro, Marcos comprou casas
para ele e os parentes. Para não pagar a segunda parte, o Estado entrou
na Justiça e, coincidentemente, ontem saiu a decisão do Superior
Tribunal de Justiça (STJ) negando o recurso.
Emocionada, a esposa, que deparou-se com
Marcos morto no momento em que foi acordá-lo para jantar, lembrou dos
momentos difíceis enfrentados pelo casal. “Quando ele saiu da cadeia,
passamos por muitas dificuldades. Tivemos que morar na casa da minha
mãe, na Várzea, depois alugamos um quarto, em Camaragibe, e não tínhamos
dinheiro para pagar as contas. As coisas melhoraram há dois anos
(quando o Estado pagou a primeira parte da indenização)".
“Durante vários anos, o casal dependeu
de favores dos amigos. Comprávamos cestas básicas, medicamentos e
pagávamos o aluguel”, contou o policial Laurentino de Brito, amigo da
família.
Nenhum comentário:
Postar um comentário