Engenheiro do Dnit é afastado a pedido da Polícia Federal

Mesmo depois da repercussão que o caso ganhou na imprensa, a construção da casa supostamente feita com verbas públicas desviadas de contratos para realização de serviços da BR-101 seguiu em ritmo normal nesta quinta-feira (24). No final da tarde, o Blog de Jamildo e o Jornal do Commercio encontraram o imóvel. Uma placa indicava o nome do engenheiro responsável e também proprietário do chalé de aproximadamente 240 metros quadrados: Genivaldo Paulino. À noite, o superintendente interino do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), Milton Rattacaso, confirmou à reportagem que Genivaldo está afastado do órgão desde a última terça-feira (22), a pedido da Polícia Federal (PF).

Quando a equipe do
Blog e do JC chegou ao condomínio Laura Bandeira de Melo, às margens da BR-408, em Paudalho, município na Zona da Mata, a 28 quilômetros do Recife, já estava escuro e ninguém trabalhava no local. No entanto, uma fonte ouvida pela reportagem garantiu que, mais cedo, havia trabalhadores sem farda na obra.

O chalé ainda está em obras. Faltam pedaços do telhado e grande parte do acabamento. O condomínio tem 163 lotes que foram adquiridos por valores que variam de R$ 90 a R$ 300 mil. Cinquenta casas estão em construção ou já prontas. O imóvel de Genivaldo está sendo construído num terreno de 800 metros quadrados que custou R$ 90 mil. "É uma casa muito boa. O modelo dele é diferente. É tipo chalé", disse uma fonte ouvida em reserva pelo
Blog. "A casa dele é muito grande. É uma obra imponente, que chama a atenção", disse outra pessoa, também pedindo anonimato.

Diante da residência há uma placa que identifica o proprietário do imóvel: "Construção de residência unifamiliar. Proprietário: Genivaldo Paulino. Projeto, construção e responsabilidade técnica: engenheiro Genivaldo Paulino", informa o letreiro.


Abordado pela reportagem, o porteiro do condomínio limitou-se a dizer que Genivaldo não estava e telefonou para uma mulher que se identificou como Maria José, síndica da propriedade onde está a casa. Ela informou ao
JC, por telefone, que o engenheiro não mora no local e vai muito pouco ao terreno.

A Polícia Federal investiga possíveis desvios milionários em contratos do Dnit com empreiteiras contratadas para serviços de construção, pavimentação e manutenção da BR-101, num trecho na Região Metropolitana. A operação foi batizada Casa 101, justamente pelo fato de que as autoridades acreditam que a residência de um servidor foi construída com recursos que deveriam ter sido aplicados na rodovia.


Uma pessoa que tem acesso ao residencial disse ter visto trabalhando na casa, no dia 22 de julho, operários com a seguinte inscrição nas fardas: BR-101, Cabo-Ribeirão.


Ninguém foi preso até o momento. A PF não revelou quem são as pessoas envolvidas nem as empresas investigadas. Estima-se em mais de R$ 67 milhões o prejuízo em apenas um dos contratos na mira da operação.


Trinta e dois contratos foram auditados pela Controladoria Geral da União (CGU). Em três foram encontrados indícios de irregularidades. "Saltam aos olhos situações atípicas como a baixa qualidade dos serviços prestados e o pagamento por serviços não executados", disse o chefe da CGU, Fábio da Silva Araújo, em entrevista coletiva na última quarta-feira (23).


Juntos os três contratos que estão sendo analisados somam mais de R$ 370 milhões. Apenas em um deles há suspeita de prejuízo de R$ 67,106 milhões. Notebooks, computadores e documentos foram recolhidos em residências, empresas e na superintendência do Dnit. Contas bancárias ligadas às supostas irregularidades foram bloqueadas. Seis pessoas, incluindo servidores do órgão foram ouvidas na superintendência da Polícia Federal e liberadas em seguida. Ao todo, 20 pessoas já prestaram depoimento.


O material apreendido será analisado e as autoridades não definiram um prazo para concluir as investigações. A expectativa é de identificar mais pessoas envolvidas nos desvios.


Em nota
, o Dnit afirmou apoiar "integralmente as ações de fiscalização realizadas pela Polícia Federal, Controladoria Geral da União e Receita Federal e coloca-se à disposição para fornecer todos os dados necessários à conclusão das investigações".

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