Deputado destinou R$ 3 milhões para fundação ligada ao PSC em 2010

Belo Horizonte — Parlamentares promovem uma ginástica para driblar a legislação do financiamento de campanha e turbinar o desempenho eleitoral a partir de emendas parlamentares. A análise dos dados do Orçamento Brasil 2010, cruzada com informações sobre doação da campanha eleitoral, revela que o deputado federal Filipe Pereira (PSC-RJ) conseguiu transferir, por meio de uma emenda para o partido, praticamente o mesmo valor que a agremiação investiu em sua campanha à Câmara. Uma ginástica fez com que o recurso público viajasse mais de 400km entre o Rio de Janeiro e Belo Horizonte, sede da Fundação Instituto Pedro Aleixo, mantida pelo PSC, e beneficiária da iniciativa.

Com base em dados do Orçamento Brasil 2010, boa parte das emendas apresentadas pelos 513 deputados naquele ano foi destinada a estados onde eles não são votados. A manobra, como mostrou o Correio na edição de domingo, serve para esconder os verdadeiros interesses dos parlamentares — financiamento eleitoral, tráfico de influência e reforço para ONGs sob suspeita. Conforme dados do Orçamento Brasil 2010, 74 parlamentares destinaram 165 emendas “forasteiras”, no valor de R$ 136,3 milhões. Os cofres mais atacados são os do Ministério do Turismo, da Ciência e Tecnologia e de fundações ligadas ao Ministério do Trabalho.

É fácil compreender o toma lá, dá cá quando se conhece os números da farra. Em 2010, ano eleitoral, Filipe Pereira enviou uma emenda no valor de R$ 3 milhões para a Fundação Instituto Pedro Aleixo, com sede na Zona Leste da capital mineira, onde nasceu o partido. Como retribuição, Pereira contou com apoio irrestrito do PSC, que foi o principal patrocinador da campanha do parlamentar, com investimento de R$ 3,205 milhões, 95% de todas as doações recebidas por ele.

Na verdade, os valores também revelam um salto significativo no volume de recursos da campanha de Pereira. No ano de 2006, sua primeira eleição, foram aplicados modestos R$ 258,1 mil, ou seja, menos de 10% do total obtido quatro anos depois. O Correio tentou falar com representantes da fundação, mas na sede do PSC, que funciona ao lado da entidade, a informação era de que não havia funcionários.

Longe de casa

Filipe Pereira também investiu em uma organização não governamental de Brasília, a Plural Brasil, que promove eventos para a divulgação do turismo interno. Mandou R$ 1,5 milhão para a entidade, esquecendo-se do Rio de Janeiro, sua base eleitoral e maior polo turístico do país. A ONG Plural Brasil também recebeu outro aporte de R$ 1,5 milhão em emendas do parlamentar Hugo Leal, vice-líder do governo na Câmara, que ainda desprezou a capacidade turística da Cidade Maravilhosa. Os deputados não retornaram os pedidos de entrevista.

E por falar em excelência em turismo, o deputado federal Aelton Freitas (PR-MG) inovou e prestigiou o seu estado de forma inusitada: apresentou emenda no valor de R$ 2,5 milhões destinada à ONG Centro de Capacitação, Treinamento e Cultura Terra Verde, com sede em Belo Horizonte. O dinheiro serviu para “alavancar a indústria da cultura para a comemoração dos 50 anos da cidade de Brasília”, a 748 quilômetros da capital mineira.

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