Após crise nos transportes, PR pode estar à beira do desmanche

A nomeação de Paulo Sérgio Passos para o Ministério dos Transportes precipitou um terremoto no PR que esfarelou o partido. As bancadas de Senado e Câmara estão em pé de guerra. Os deputados boicotaram um encontro com a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Os senadores, satisfeitos por tomar a dianteira da interlocução com o Palácio do Planalto, pressionam pela manutenção de Luiz Antonio Pagot no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Amuados pela perda de poder, o deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP) e o ex-ministro e senador Alfredo Nascimento (PR-AM), defenestrado dos Transportes, capitaneiam uma ameaça velada ao Planalto de levar o partido à oposição, o que implicaria entregar todos os cargos que têm na administração federal.

Nos bastidores, a disputa ganhou contornos de tensão. Os senadores dizem que os correligionários deputados não sabem lidar com a presidente Dilma Rousseff. Os deputados atiram dizendo que os colegas tentam se beneficiar de uma situação jogando o deputado Costa Neto aos leões. “Admitimos que estamos em desvantagem. A interlocução do Planalto com a Câmara não existe”, cutucou o líder do PR na Casa, Lincoln Portela (MG).

Afinadíssimo com o governo, o senador Clésio Andrade (PR-MG) movimenta-se em sentido contrário. Sugere que poderá criar um partido para arrebanhar os insatisfeitos com a liderança de Valdemar e Alfredo na legenda, o que racharia de vez o Partido da República. “Estou pensando em reativar o projeto do partido novo caso o ambiente no PR torne-se mais hostil”, declarou.

Ainda com a ressaca da nomeação de Passos, servidor de carreira dos Transportes, para a pasta, Lincoln Portela (MG) anunciou aos aliados que não iria comparecer ao tradicional almoço da base aliada na Câmara, que ocorre todas as terças-feiras com a ministra Ideli Salvatti . “No mesmo horário, recebi em meu gabinete uma romaria de deputados insatisfeitos com o Planalto, que nomeou Passos sem nos consultar”, disse.

Lincoln ameaça boicotar também o encontro previsto para hoje com a presidente Dilma para comemorar o fim do semestre legislativo. Deputados aliados, como o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), entraram em cena para tentar reverter a posição do PR. Durante o almoço, ele já havia feito um desagravo ao PR, mas acha que os deputados não podem exagerar. “Uma coisa é não ir ao encontro com a Ideli. A outra é boicotar a presidente. Isso é preocupante”, afirmou o deputado potiguar.

Diferentemente da Câmara, o líder do PR no Senado, Magno Malta (ES), disse que irá ao encontro de hoje, defendeu a nomeação de Passos e elogiou a postura da presidente. Segundo ele, as resistências na Câmara são pontuais. “O pessoal ainda não percebeu que ao fazer cara feia para a Dilma, ela também devolve a cara feia. A Dilma pegou em armas num momento difícil do país. Ela é das minhas”, afirmou Malta.

Lobby

O PR só se entende ao avaliar que Dilma errou ao demitir Pagot de maneira sumária. “A nomeação de Passos foi importante para estancar o sangue. Mas não tem por que demitir o Pagot. Ele mostrou que entende tudo de transportes, é competente, aliado e fiel”, afirmou Malta. O senador Blairo Maggi (PR-MT) fez coro à manutenção de Pagot e afirmou que, se o Planalto confirmar a saída do diretor do Dnit, tende a ter uma postura mais crítica em relação ao governo.

Blairo pediu ao governo que utilize o restante das férias de Pagot e o recesso parlamentar para encontrar provas factíveis contra o indicado e chamou um possível afastamento do diretor de “injustiça”. “Nenhum presidente tem que trabalhar com a faca no pescoço.” No Planalto, continua a mesma disposição da semana passada. Ao término das férias, Pagot terá de pedir exoneração. Se não o fizer, será defenestrado.

Um aliado também lembrou que o atual inimigo no PR, Valdemar Costa Neto, já foi útil ao Planalto em um passado recente. O governo recorreu a ele quando percebeu que o PR iria alinhar-se ao PMDB durante a votação da emenda ao texto do Código Florestal que abria brecha para anistia aos desmatadores. Apesar de algumas dissidências, Valdemar teria conseguido reordenar o rumo do partido, que acabou seguindo a orientação palaciana.

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