PCdoB na Secretaria de Mulheres no DF: sabe onde quer chegar

Mesmo sem estrutura física montada, a Secretaria da Mulher do Distrito Federal, criada pelo governador Agnelo Queiroz, já começou a funcionar. A secretária, Olgamir Amâncio, do PCdoB, teve o cuidado de contatar com os outros secretários, os administradores regionais e o próprio governador, para pedir que na composição de suas equipes eles tenham como referência a participação da mulher nas instâncias de poder.

“Nós podemos ter várias dificuldades, mas uma não temos, sabemos onde queremos chegar: todo comunista sabe que o nosso projeto estratégico é construção de uma sociedade justa e igualitária e é para lá que vamos caminhar ;e essa secretaria pode contribuir para ser um passo a frente nesse caminho”, diz Olgamir, que até então era também secretária de Mulher do PCdoB-DF.

Olgamir, que esteve nesta terça-feira (4), em reunião convocada pela coordenadora da UBM (União Brasileira de Mulheres), Santa Alves, anunciou para a próxima quarta-feira (12) um grande ato político para marcar a posse dela na Secretaria. “Vamos fazer um grande ato, chamaremos o movimento social e todos os setores que possam ser aglutinados em torno dessa secretaria”, disse à platéia de homens e mulheres da entidade que foram parabenizá-la e manifestaram apoio à sua gestão.

Portal Vermelho - O Governo do Distrito Federal assinou o Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência Contra a Mulher somente em dezembro passado, foi um dos últimos a se comprometer formalmente no combate a violência contra a mulher, apesar de ser o ente da federação que lidera o ranking das ligações para a Central de Atendimento à Mulher - Ligue 180, qual a expectativa de trabalho nessa área?
Olgamir Amâncio – Temos o privilégio e o desafio pela frente que é garantir que os governos eleitos, tanto o governo federal, na figura da nossa presidenta, quanto na eleição do companheiro Agnelo Queiroz, possam enfrentar e dar respostas ao que está sendo demandado ao GDF. E a SPM do DF jogará o papel que a ela será demandada. Eu insisto em acreditar que no processo coletivo nós conseguimos superar as fragilidade da estrutura e que nessa aliança com todas as mulheres e homens poderemos fazer grande política para que essa Secretaria possa responder com políticas públicas para enfrentar as mazelas que passam as mulheres do DF.

Vermelho – De que forma a eleição da primeira mulher presidente contribui na luta das mulheres?
OA – A eleição de Dilma Rousseff é um marco histórico na luta das mulheres, na luta do nosso povo. É um símbolo na nova concepção de mundo, de homem, de sujeito, ao mesmo tempo que é continuidade de um projeto que vinha sendo muito bem conduzido pelo Presidente Lula. Ela sinaliza que estamos nos preparando para fazer a grande revolução, não só da mudança da estrutura, mas no modo de pensar e conceber o mundo que passa pela questão das mulheres brasileiras.

Vermelho – E qual a expectativa de ajuda do governo federal, com a Presidente Dilma, ao GDF?
OA - Ao mesmo tempo que temos garantido na Presidência da República uma mulher em consonância com o projeto de desenvolvimento que não tem o mercado como referência, mas tem as pessoas como referência, temos no DF um projeto também está em sintonia com o desenvolvimento do Brasil em âmbito nacional, porque até recentemente Brasília estava em descompasso com o resto do País.

Vermelho Nesse descompasso, quais as dificuldades deixadas para o trabalho desse novo governo?
OA - Nós temos o desafio de arrumar a casa que está completamente desarrumada. Nos últimos anos, os governantes privilegiaram a desordem, o esvaziamento do Estado. Nós recebemos o Estado sucateado, a cidade esvaziada, a auto-estima da população jogada por terra. O governador tem a tarefa de reorganizar o DF tanto do ponto de vista de estrutrura quanto e desse sentimento de que Brasília é a capital de todos os brasileiros e precisa ser vista com essa “imponência”, entre aspas, que ela merece. Nesse contexto de reorganização da Casa, o governador tomou medidas como a implementação da estrutura da Secretaria de Mulher, que para toda sociedade é muito importante, porque essa secretaria, diferente do que aconteceu em outras unidades da federação, já nasceu como uma secretaria de estado, com autonomia e condição da política mais geral, como todas as demais secretarias, não uma secretaria de segunda classe. Isso representa uma olhar diferenciada a demanda de 52% da população, uma diferencial que não podemos perder de vista.

Vermelho – A que a Sra. atribui a escolha do PCdoB para assumir essa Secretaria?
OA – É uma forma respeitosa de tratar nosso Partido. Um governo eleito com a base ampla que esse tem não é fácil conseguir trabalhar com as contradições próprias dessa realidade e assegurar no primeiro escalão nosso Partido. A disputa é gigantesca. Mas não é tarefa difícil, porque o PCdoB tem se colocado historicamente como um partido consequente, um partido de política séria, não vacila no ponto de vista do seu projeto estratégico. E o Agnelo, originário desse Partido, tem clareza do que representa e qual importância ter um Partido com a marca do PCdoB. Ainda que a correlação de força não seja favorável, é nossa história, a política consequente que nos autoriza estar no primeiro escalão do governo.

Vermelho - A Secretaria de Mulher ainda não tem nem estrutura física definida, mas já foram adotadas algumas medidas? Quais são elas?
OA - Algumas áreas do planejamento já estão definidas. A secretaria nasce tendo como referência a Secretaria Nacional. Ela precisa fazer interlocução com todas as demais secretarias, tem que fazer a transversalidade, aportar em todas as áreas e nos já sinalizamos isso. Uma das prioridades foi na reunião dos secretários em que já fiz pedido, também ao governador e aos administradores regionais, que os espaços de governo sejam ocupados tendo a questão da mulher como referência. Mesmo que a gente não possa instituir a cota, não temos condições para isso, mas temos que exercitar na ocupação dos espaços de governo essa referência, não podemos esperar que os espaços sejam ocupados para pedir esse espaço depois.

Vermelho – Na prática, qual o trabalho que a Secretaria vai realizar?
OA - Estamos trabalhando com cinco áreas prioritárias (educação, saúde, trabalho, participação política e conferências). A educação sozinha não dá conta de transformar a realidade, mas como educadora, eu sei que nenhuma mudança ocorrerá sem que passe pela educação. Já conversei com a Secretária de Educação, de quem sou muito próxima, porque ela foi minha orientanda no mestrado e doutorado, para incluir nas escolas, nos currículos, a questão da mulher. Não mudamos mentes e corações se a escola não contribuir para isso. Hoje a legislação traz a questão de creche para dentro da educação. Há compreensão de que o processo de aprendizado da criança começa no ventre e a questão da creche deve ser pensando não como assistência, mas como espaço de educação, e estamos debatendo esse desafio. O trabalho é outro eixo porque não podemos falar sobre empoderamento da mulher sem discutir a renda e remuneração, que a liberta e lhe dá condições de se colocar no processo. Queremos trabalhar com o microcrédito, que é uma preocupação da presidente Dilma. Eu estive na posse da ministra Iriny Lopes (da Secretaria Especial de Política para as Mulheres – SPM) e conversamos sobre esse desafio. Nós queremos que o DF entre em sintonia com a secretaria nacional. A ideia é fazer essa articulação porque se não fizermos isso, nós não teremos recursos e condições de construir políticas para dar suporte a sobrevivência primeira da mulher para entrar nessa outra dimensão que é a participação política.

Vermelho Esse é o outro eixo de atuação da Secretaria, o empoderamento das mulheres?
OA – Sim mas não dá para exigir participação política da mulher sem criar condições de creche, renda etc. A saúde é outra questão que precisamos enfrentar. Ainda não consegui fazer contato com o secretário porque com a decretação da emergência da saúde ficou difícil.

Vermelho A Sra. Falou também sobre as conferências?
OA – É, outro espaço definido é o das conferencias. Não há como se pensar na atuação de uma secretaria sem que se faça escuta da sociedade. Eu não compartilho com a ideia de que alguém sozinho, por mais competente que seja, dê conta da realidade. Nós vamos instalar o processo de conferências já nos primeiros 100 dias de governo. Vamos fazer 20 conferencias na cidade para que o ‘pool’ da secretaria de mulheres saia com a cara da mulher do DF, das suas demandas, que por mais que se aproximem da realidade nacional, tem especificidades que precisam ser tratadas. Essas conferências culminarão com a conferência distrital, mesmo por que, no segundo semestre desse ano, em data ainda não definida, haverá conferência nacional, importante espaço para discutirmos.

Vermelho Existem questões mais imediatas, como a da Casa Abrigo, que viveu crise no ano passado, quando foi despejado do local por falta de pagamento do aluguel. Como vai ser resolvida essa questão?
OA – Eu visitei hoje a Casa Abrigo. É assustadoramente precária. está com 19 mulheres, mas atende até 45 mulheres em um dia. Nós queremos criar um centro de referência, espaço para atender toda mulher que esteja na casa abrigo ou em dificuldade ou sob ameaça, com todo aporte para essas mulheres, com psicólogo, assistente social, pedagogo para os filhos, e o setor jurídico. As mulheres na casa abrigo, que não é público, devem vir receber visita no centro de referência, que deve atender não apenas as mulheres, mas também o agressor que precisa de ajuda para evitar os atos de violência. Nós vamos também fazer a interlocução com as cidades (administrações regionais) para estruturarmos grupo itinerante de atendimento, que possa atender com plantões em cada cidade do DF, em Planaltina, Recantos das Emas, Ceilândia etc.

Vermelho - E para o dia 8 de Março (Dia Internacional da Mulher), que por coincidência é também o dia do seu aniversário, a secretaria já tem alguma coisa em mente?
OA - O dia 8 de março este ano coincide com o Carnaval, mas a gente precisa comemorar a data no ano em que estamos com a primeira mulher presidente e a secretaria. E vamos aproveitar inclusive o Carnaval. A ideia é encontrar uma escola de samba central e algumas outras nas cidades do entorno para divulgar a data. Mas o 8 de março não se trabalha apenas o dia, é o mês todo - o Março Mulher, por isso vamos programar várias atividades durante todo o mês que pode culminar com um seminário para discutir as questão da mulher.

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